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O impacto da pesquisa científica no cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU

A universidade precisa estar mais próxima das demandas sociais reais. E uma forma de medir isso é a capacidade das pesquisas de impactar os cumprimentos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da ONU

1 out 2024 - 09h40
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Em 2022, o Brasil ocupava a 13ª posição no ranking internacional em produção científica. A pós-graduação brasileira é reconhecida por sua qualidade no que se refere a mérito acadêmico. E, para além da pesquisa, cada vez mais universidades, centros de pesquisas e órgãos governamentais ligados à educação e à ciência estão atentos à necessidade de que esse mérito acadêmico seja transferido para a sociedade.

Uma pesquisa recente reconhece que 95% de toda a pesquisa científica realizada no Brasil hoje é feita por universidades públicas, através de seus programas de pós-graduação. Portanto, um dos maiores desafios contemporâneos das universidades é como extrapolar seus muros e transferir esse conhecimento à população.

Produção acadêmica e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

As pesquisas podem produzir impactos na sociedade de duas formas. O impacto potencial — que, como o próprio nome diz, potencializa o impacto, mas não necessariamente o gera. E o impacto real, como quando, por exemplo, uma política pública que é implementada, uma tecnologia é adotada por uma empresa ou um novo medicamento é lançado. Em geral, a pesquisa científica gera o impacto potencial, que pode ou não acabar se tornando impacto real.

Para medir esses impactos da produção científica na sociedade, um trabalho que vem ganhando expressão é o que avalia o impacto das ciências ambientais na Agenda 2030 da ONU, que estabelece os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A Agenda 2030 surge do interesse intergovernamental, no âmbito das Nações Unidas, de estabelecer um desenvolvimento sustentável que possa garantir a mesma qualidade de vida para gerações futuras. Dos 17 ODS criados pela Agenda, seis se referem à dimensão social, outros seis à dimensão ambiental, três à econômica e dois ao que chamamos de institucional.

Em duas frentes distintas, temos desenvolvido aparatos que permitem fazer a correlação entre a produção da pós-graduação e o potencial que ela tem de impactar os 17 ODS. Uma equipe do Núcleo de Pesquisa da Pós-Graduação na Sociedade (NuPIS), criado no âmbito do Instituto de Estudos Avançados (IEA / USP) e sediado na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), está aperfeiçoando um algoritmo que correlaciona as dissertações de mestrado e teses de doutorado com os 17 ODS, inclusive a outros três adjacentes, oriundos de uma iniciativa brasileira.

E a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes), por sua expertise em avaliação, criou um Grupo de Trabalho sobre Impacto da Pós-graduação Brasileira na Agenda 2030 (GT IpgB Agenda 2030), que envolve as suas 50 Áreas de Avaliação, o Fórum de Pró-reitores de Pós-graduação (FOPROP) e a Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), por ocasião da 30ª Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a ser realizada na Amazônia brasileira, Belém, em novembro de 2025.

As duas iniciativas colaboram em rede. Estamos bastante próximos de termos um software de acesso aberto em que você coloca o título, o resumo e as palavras-chave de uma tese e o algoritmo estabelece os percentuais de correlação com as ODS.

Respostas aos problemas sociais

Todo o Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG) — universidades, agências de fomento e todos os atores que operam na pós-graduação — já percebeu que, para além do mérito científico, é preciso que os programas possam oferecer respostas aos problemas da sociedade; sobretudo em uma sociedade com uma desigualdade social estrutural como a nossa.

Os ODS têm sido divulgados internacionalmente em uma linguagem ilustrativa, visual e mais acessível, o que torna possível uma comunicação com a sociedade que dialogue sobre os benefícios que a ciência ocasiona.

Vivemos um período de emergências climáticas como nunca tivemos, enchentes, secas, incêndios por todo o país… A universidade precisa, portanto, estar mais próxima das demandas sociais reais.

A linguagem científica ainda é muitas vezes rebuscada, e dificulta o diálogo até entre áreas do conhecimento distintas. Mas os pesquisadores já se preocupam com a democratização do conhecimento e o compartilhamento dos novos saberes com a sociedade. Prova disso é o movimento recente de valorização da extensão na pós-graduação.

Nos meus 40 anos de universidade, raramente vi esse movimento de valorização da extensão universitária no âmbito dos programas de pós-graduação, que é a articulação do conhecimento científico advindo do ensino e da pesquisa com as necessidades da sociedade, seja estado, empresas e comunidade. Não que esse movimento esteja consolidado. Ainda falta organicidade, mas está começando.

Na Capes, a iniciativa do GT IpgB Agenda 2030 está produzindo o livro Impacto da Pós-Graduação Brasileira na Agenda 2030. A ideia do livro, entre outros desafios, é dar destaque a experiências dos programas de pós-graduação por meio das atividades de ensino, pesquisa e inovação, e extensão que vem sendo desenvolvidas, após a realização da Rio+20, e que vem gerando impactos potenciais e reais no atendimento aos ODS, consequentemente na Agenda 2030.

Na época do Rio+20, em 2012, produzimos um documento semelhante. O livro se chamava Contribuição da Pós-Graduação na Rio+20 e, na época, apenas oito áreas de avaliação da Capes participaram da construção da obra. Agora em 2024, todas as 50 áreas da Capes tomaram a decisão de participar da elaboração do livro.

Nas ciências ambientais, que eu coordeno, temos uma iniciativa similar aos destaques de experiências que atendem aos ODS, que denominamos de Enciclopédia de Boas Práticas no alcance da Agenda 2030 que vão ser apresentadas no IV Encontro Acadêmico Impacto das Ciências Ambientais na Agenda 2030 da ONU, a ser realizado nos dias 26, 27 e 28 de novembro deste ano, no campus da FEEVALE, em Novo Hamburgo (RS).

A experiência de nossa Área em relação ao tema do desenvolvimento sustentável, como também das outras 49 áreas de avaliação, vem sendo determinantes para produzir impactos na sociedade decorrentes de projetos de vanguarda, a partir das quatro grandes atividades que normalmente acontecem numa universidade: ensino, pesquisa, inovação e extensão.

Do desenvolvimento de um medicamento a partir dos resíduos da laranja à produção do hidrogênio verde (uma alternativa para a crise energética), como tantas outras experiências podem trazer alento para emergência climática que já estamos enfrentado. As experiências que vem produzindo impacto estão sendo agrupadas em quatro blocos: experiências que atendem um número maior de ODS; iniciativas que surgem de programas da região amazônica e que beneficiam, sobretudo, a própria região (Da Amazônia para Amazônia); experiências que mais trazem aprendizados no combate das mudanças climáticas; e projetos que trabalham com os ODS adjacentes, adaptadas para a realidade brasileira.

Iniciativas como essa colaboram para que todo o mérito científico das universidades chegue à sociedade, e para que a ciência receba o reconhecimento da população sobre sua importância no dia a dia de todos nós.

The Conversation
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Foto: The Conversation

Carlos Alberto Cioce Sampaio é professor dos Programas de Pós-Graduação (PPG) em Desenvolvimento Regional (DR) da Universidade Regional de Blumenau (FURB) e em Engenharia Civil da Universidade São Judas Tadeu (USJT), além de colaborar com outros PPG, e coordenador da Área de Ciências Ambientais da CAPES. É pesquisador com financiamento do CNPq, IA e FUNADESP.

The Conversation Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons
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