O olhar visionário de Pharrell Williams para a Louis Vuitton
Diretor criativo da linha masculina da maison, ele se conecta com o presente de uma maneira autêntica, consciente e real
Há pouco mais de um mês, no dia 7 de dezembro, Pharrell Williams surpreendeu o público durante a reabertura da Notre Dame de Paris. A catedral, que sofreu graves danos em um incêndio em 2019, passou anos em processo de restauro. Pharrell apresentou Happy, um de seus maiores sucessos. A canção, lançada em 2013, tornou-se um hit global, liderando as paradas em mais de 35 países e recebendo uma indicação para o Oscar.
A escolha do cantor, compositor e produtor americano para a ocasião é emblemática. Pharrell é considerado um dos principais nomes na disseminação do streetwear na moda global. Sua presença na reabertura de um símbolo histórico da cultura francesa, que data do século 12, reflete uma abordagem contemporânea. Essa visão combina respeito ao passado com um olhar arrojado para o presente e o futuro.
Além de popstar, Pharrell é diretor criativo da linha masculina da Louis Vuitton desde 2023. A grife francesa tem mais de 170 anos de história. Em suas coleções, ele trabalha o conceito de heritage - a herança da marca - de forma conectada com o presente e o futuro. Na última terça-feira, durante o desfile na semana de moda de Paris, Pharrell reafirmou esse compromisso. Ele mostrou que continua fiel à história que vem construindo.
Os códigos da coleção
Se, em janeiro do ano passado, Pharrell atualizou os códigos do clássico western americano, trabalhados à moda Louis Vuitton, nesta temporada de outono-inverno 2025 o diretor criativo evoluiu sua abordagem. Ele se desprendeu de arquétipos específicos, como os cowboys, sem abandonar o olhar para o passado. A coleção foi apresentada sob o mote "lembre-se do futuro". Segundo o texto que acompanha a coleção, a temporada reflete "pensamentos alinhados em uma apreciação pelos valores centrais da Louis Vuitton: discernimento, Savoir-faire e viagens, que continuam a alimentar a criatividade futura".
O trabalho é fruto da colaboração entre Pharrell Williams e o japonês NIGO. Designer de moda, DJ e produtor musical, NIGO é o diretor criativo da Kenzo. Ele também tem um histórico de colaborações de destaque com Pharrell e a Louis Vuitton. NIGO, por exemplo, fundou a marca de streetwear Human Made em 2010. A marca recebeu apoio de Pharrell Williams. Em 2020, o japonês foi convidado por Virgil Abloh, então diretor artístico da Louis Vuitton, para colaborar na coleção cápsula LV². Na coleção, apresentada no Museu do Louvre, NIGO dividiu a criação com Pharrell. Essa parceria também ganhou destaque conceitual. A Louis Vuitton descreve a união como "conversas entre o passado e o futuro". Segundo a marca, "os arquivos refletem as interseções entre a Maison e os dois colaboradores, bem como as convergências criativas que aceleram a ideação futura".
Arquétipo do homem elegante, impecável e sofisticado
Na moda, o olhar de Pharrell se destaca como particular, estratégico e consciente. Suas criações nesta temporada evocaram referências como o estilo dândi. Esse estilo, originado no século 19, representava o arquétipo do homem elegante, impecável e sofisticado. Na interpretação de Pharrell para a Vuitton, o dândi ganha referências streetwear. "Elementos básicos adaptados do streetwear dos guarda-roupas esportivos e de performance são elevados com refinamento técnico ou artesanal", explica. "As linhas tradicionais da alfaiataria são casualizadas no corte ou no volume; algumas encurtadas e reinterpretadas em couro."
Destaque especial deve ser dado para os ternos de couro. As propostas de costume criadas em marrom também chamam a atenção, sendo uma das cores do ano, segundo portais como WGSN e Pantone.
O japonismo, expresso na alfaiataria por referências a elementos marcantes da cultura de moda nipônica, por referências às flores de cerejeira - que surgiram tanto em detalhes como nos delicados botões, quanto em jacquards padronagens e bordados - e também por propostas que reinventam ícones e monogramas clássicos da Louis Vuitton são técnicas e abordagens japonesas.
Arrematando o mélange de referências e olhares, os acessórios trazem expressos resumos de toda a narrativa da coleção; bolsas, bonés, charms, calçados e os clássicos baús da grife francesa foram apresentados em harmonia perfeita ao conceito de encontros, de estilos e olhares, sob a ótica contemporânea e multicultural que se destaca como proposta.
Com a coleção, Pharrell se consagra como um diretor criativo que propõe um visual de moda conectado com a cultura pop em versões mais maduras e sofisticadas.
Uma possível leitura do trabalho de Pharrell Williams na Louis Vuitton destaca a sua habilidade de se conectar com o presente de uma maneira autêntica, consciente e real. Quando vista sob um panorama geral, a história construída pelo diretor mostra uma moda que apela aos novos desejos das gerações atuais, sem cair em hipérboles, mantendo-se possível também para os clientes de estilo clássico, porém conscientes do presente - ou melhor, do futuro, como ressalta a coleção.