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O paradoxo do progresso

3 out 2018 - 13h32
(atualizado em 4/10/2018 às 04h38)
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Pode parecer contraditório, mas a polarização da sociedade é resultado da melhora dos padrões de vida no Brasil ao longo das últimas décadas, escreve a colunista Astrid Prange.Caros Brasileiros, de onde vem a polarização que todo mundo sente? Hoje, no dia da unidade alemã (03/10), descobri uma nova explicação que eu queria compartilhar com vocês nesses tempos tensos, poucos dias antes das eleições no Brasil.

Solidariedade em vez de polarização, diz cartaz de protesto em Hamburgo
Solidariedade em vez de polarização, diz cartaz de protesto em Hamburgo
Foto: DW / Deutsche Welle

A inspiração vem de um livro com o título O paradoxo da integração. O autor, Aladin El Mafaalani, é filho de imigrantes árabes, sociólogo, economista e professor de ciências políticas. A atual polarização política na Alemanha para ele é o resultado de uma integração bem sucedida de imigrantes.

Parece bastante contraditório, mas a conclusão de Mafaalani é: mais progresso, mais polarização.

"Enquanto mulheres imigrantes faziam limpeza, ninguém ligava para o véu ou o lenço na cabeça delas", disse ele. "Mas quando elas começaram a fazer faculdade e subir na escada social, os conflitos surgiram."

As estatísticas sustentam essa tese: o nível de educação da geração jovem de imigrantes na Alemanha melhorou significativamente. Em 2005, somente 14 % desse grupo conseguiu um diploma universitário. Em 2016, a taxa subiu para 26%. No mesmo período, o desemprego entre todos imigrantes na Alemanha diminuiu: caiu de 18% para 7%.

Ao meu ver, a tese de Mafaalani serviria também para explicar a polarização da sociedade no Brasil. Pois nos últimos 25 anos, milhões de brasileiros humildes conseguiram ascender socialmente. Ao passo que o combate à pobreza no Brasil é reconhecido pela comunidade internacional, internamente a avaliação é divida. Enquanto a maioria festeja o progresso, uma parte da sociedade se sente até ameaçada.

Isso provocou uma reação contrária: contra cotas para negros nas universidades, contra a legislação do emprego doméstico, contra o PT. E inveja também. Inveja dos novos atores na sociedade, que queriam mudar a maneira tradicional de governar o país, que queriam ser ouvidos e respeitados.

Mas qual seria a resposta para esse paradoxo do progresso? Seria então melhor não lutar mais por justiça social, direitos de minorias, emancipação da mulher, integração de refugiados ou proteção ao meio ambiente?

A resposta é definitivamente não. Pois é melhor conviver com o paradoxo do progresso do que com o retrocesso. E mais importante ainda: apesar dos avanços no campo da integração e inclusão social, ainda tem muito o que melhorar.

O medo que os movimentos populistas continuem avançando é real. Na Alemanha, o partido de direita "Alternativa para a Alemanha" (AfD) alcançou 18 % nas últimas pesquisas eleitorais. No Brasil, o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) alcançou 32% das intenções de voto.

A ideia de voltar para "os bons tempos de antigamente" parece sedutora. Na realidade, essa viagem é uma ilusão. Pois, afinal, qual passado teria sido melhor? O tempo da ditadura militar no Brasil? O "Estado Novo" de Getúlio Vargas? E na Alemanha, a extinta República Democrata Alemã? A ditadura do Nazismo?

Em vez de glorificar um passado não definido, o desafio é desenvolver e discutir ideias para o futuro. Pois a globalização não vai ficar mais humana se for combatida com populismo, protecionismo ou nacionalismo. E a criminalidade não vai se dissolver com tanques de guerra nas favelas. E a imigração para os Estados Unidos não vai parar com o muro de Trump. Muros serão derrubados, ensina a reunificação alemã.

Astrid Prange de Oliveira foi para o Rio de Janeiro solteira. De lá, escreveu por oito anos para o diário taz de Berlim e outros jornais e rádios. Voltou à Alemanha com uma família carioca e, por isso, considera o Rio sua segunda casa. Hoje ela escreve sobre o Brasil e a América Latina para a Deutsche Welle. Siga a jornalista no Twitter @aposylt e no astridprange.de.

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