O que falta esclarecer sobre as mortes de Bruno Pereira e Dom Phillips
Restos mortais estão sendo levados de avião para Brasília, onde será feita a perícia para confirmar as identidades e a causa das mortes
Com a confissão do principal suspeito pelo desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do repórter britânico Dom Phillips, e a localização do que podem ser os restos mortais deles, a Polícia Federal (PF) concluiu uma primeira etapa da investigação.
Os policiais federais, que já tratavam o caso como possível homicídio, confirmaram na noite de quarta-feira, 15, que Bruno e Dom foram mortos na região do Vale do Javari, no Amazonas, pelo pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, o primeiro preso na investigação.
O comitê criado para investigar o sumiço do indigenista e do jornalista, coordenado pela PF, ainda precisa esclarecer a motivação do crime. Familiares, indígenas, parlamentares e outras autoridades pedem justiça pela morte precoce.
Veja o que falta esclarecer:
Perícia
O anúncio de que “remanescentes humanos” foram encontrados na área de buscas, a cerca de três quilômetros do rio Itaguaí, foi feito na noite de ontem pelo ministro da Justiça, Anderson Torres, nas redes sociais. Os policiais levaram um dos suspeitos até a região e ele apontou onde teria enterrado os corpos e afundado a embarcação usada pelo jornalista e o indigenista.
Os restos mortais foram levados de avião para Brasília onde será feita a perícia para confirmar as identidades e a causa das mortes. A equipe de peritos federais embarcou em uma aeronave da própria PF. Geralmente, os exames duram entre 30 e 60 dias, mas diante da comoção em torno do caso, a conclusão está prevista em até uma semana.
Uma das hipóteses é a de que Bruno e Dom tenham sido mortos a tiros e carbonizados antes de serem enterrados. O Estadão conversou com Marcos Camargo, presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF), que explicou que a perícia vai envolver três exames: o exame de DNA para identificar as vítimas; o exame necroscópico para verificar se houve tiros ou algum outro tipo de agressão; e o exame médico legal, uma avaliação interna nos corpos para indicar a causa da morte.
“A perícia é imprescindível para buscar as respostas: para definir materialidade, entender a dinâmica e apontar a autoria. Mesmo com a confissão, você tem que seguir com a análise pericial, para corroborar os relatos com fatos científicos”, sintetiza.
Motivação
O Vale do Javari conserva a segunda maior reserva indígena do País e concentra a maior parte dos indígenas isolados no mundo. A região na fronteira com o Peru e com a Colômbia é constantemente invadida por traficantes de drogas e armas, caçadores ilegais, madeireiros e garimpeiros. Ainda não está claro se o assassinato de Bruno e Dom tem relação com a ação desses criminosos. O superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Eduardo Alexandre Fontes, mantém as linhas de investigação sob sigilo.
Testemunhas ouvidas relataram que Bruno vinha sofrendo ameaças pelo trabalho que fazia na região. O indigenista, que foi coordenador regional da Funai em Atalaia do Norte, orientava moradores a denunciar irregularidades nas reservas indígenas.
Responsáveis pelo crime
Além de Pelado, que confessou o crime, o irmão dele, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como Dos Santos, também foi preso sob suspeita de envolvimento no caso. A PF investiga outras pessoas que podem ter participado do assassinato, mas ainda não foram presas. As identidades não foram reveladas.
Para Camargo, a “interpretação” da cena do crime pode ajudar a encontrar elementos que comprovem quem são os responsáveis pelas mortes de Bruno e Dom.
“A análise do local tem essa particularidade: ela é importante justamente para identificar vestígios que possam levar a um eventual autor ou autores daquele crime. E aí você vai, por meio de técnicas de perícia criminal, usar os recursos para tentar identificá-los”, explica Camargo.
Dinâmica
Em um primeiro depoimento, Pelado disse que Dom e Bruno passaram com a embarcação em frente à comunidade São Gabriel, onde mora, mas negou ter saído de casa naquele dia 5 de junho, quando o jornalista e o indigenista desapareceram. Aos investigadores, ele afirmou que só saiu no dia seguinte para “caçar porcos”. Também disse que conhecia Bruno “apenas de vista” e que nunca conversou com ele.
A versão mudou e ele teria dito que ouviu o barulho dos tiros e, ao chegar ao local, encontrou uma terceira pessoa. Então, no dia seguinte, ele e o irmão resolveram incendiar os corpos, esquartejar e enterrá-los.
“Foi um embate, a principio ele (Pelado) alega que foi com arma de fogo, mas temos que aguardar a perícia porque ela que vai dizer, identificar qual foi a causa da morte, as circunstâncias e a motivação”, afirmou o superintendente da PF no Amazonas na noite de ontem.