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Obesidade não é só questão de índice de massa corporal

17 jan 2025 - 15h50
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Comissão internacional propõe diretrizes alternativas para diagnóstico de sobrepeso. Promessa é de terapias mais eficazes e racionais. Críticos temem otimismo excessivo e recuo dos planos de saúde.Atualmente há mais de 1 bilhão de indivíduos bem acima do peso ideal, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A entidade das Nações Unidas já fala em "epidemia de obesidade", pois esse número cresce vertiginosamente, afetando também crianças e adolescentes.

Mais de 1 bilhão de pessoas são atualmente classificadas como acima do peso pela OMS
Mais de 1 bilhão de pessoas são atualmente classificadas como acima do peso pela OMS
Foto: DW / Deutsche Welle

Há décadas, a diretriz para diagnóstico de obesidade é o índice de massa corporal (IMC). Ele é calculado dividindo-se o peso em quilos pelo quadrado da altura em metros. Por exemplo: quem mede 1,75 metro e pesa 70 quilos tem um IMC de 22,86.

Quem apresenta um índice de 30 ou mais é considerado obeso, o que é o caso de um quarto dos alemães e, segundo dados da associação Abeso, quase um quinto dos brasileiros.

Contudo, há consenso entre os pesquisadores de que só o IMC não é um indicador suficiente de sobrepeso, pois não distingue entre gordura e massa muscular, nem informa sobre o estado de saúde individual.

Para além do IMC

Uma comissão internacional de mais de 50 especialistas elaborou diretrizes diagnósticas alternativas para obesidade, considerando também dados sobre a gordura e medidas físicas. Em artigo na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology, eles propõem três fatores, além do IMC:

pelo menos uma medida da massa corporal (circunferência da cintura, relação cintura-quadril ou relação cintura-altura);

pelo menos duas medidas da massa corporal, independente do IMC;

medição direta da gordura corporal.

Além disso, deve-se atentar para sinais ou sintomas objetivos de um mau estado de saúde. Se o IMC está acima de 40, pode-se partir do princípio de que há um nível de gordura excessivo.

Sobrepeso infantil é especialmente perigoso

Crianças com sobrepeso têm risco mais elevado de diabetes do tipo 2, hipertensão arterial e dislipidemia (distúrbio do nível de gordura no sangue). Podem ocorrer também danos aos órgãos internos, como esteatose hepática (fígado gordo), cálculos na vesícula biliar, doenças circulatórias e acidentes vasculares cerebrais (AVC).

O excesso de peso sobrecarrega ossos e articulações, resultando em artrose e problemas na coluna vertebral. Crianças com adiposidade excessiva estão também mais expostas a ter falta de ar, apneia noturna e asma, e a metade delas sofrerá de obesidade por toda a vida. Quanto maior o IMC, maior o risco de enfermidades graves e potencialmente fatais.

Quando o excesso de peso é doença?

As novas diretrizes também visam esclarecer quando o excesso de peso deve ser classificado como enfermidade. Para tal, os membros da comissão médica propõem a definição de duas formas de obesidade, as quais exigem estratégias terapêuticas distintas:

Obesidade pré-clínica: adiposidade com funções orgânicas normais. Os afetados não são considerados doentes crônicos, mas apresentam risco acentuado de desenvolver diversas outras enfermidades. Com a devida assistência, essa condição pode ser minorada.

Obesidade clínica: há sintomas de função orgânica restrita e/ou considerável limitação das atividades cotidianas. Portadores de obesidade clínica são considerados doentes crônicos, necessitando de tratamento urgente.

Com essa proposta, os cientistas esperam amenizar a longa controvérsia sobre a classificação da obesidade como doença, possibilitando abordagens terapêuticas mais específicas e eficazes. Isso resultaria também numa distribuição mais racional de recursos e na priorização justa das opções de tratamento disponíveis.

Pró: tratamento mais adequado para casos perigosos

As propostas da comissão divulgadas na The Lancet dividem a comunidade médica. De um lado, estão os que saúdam que se questione a definição de obesidade e se amplie o conceito de enfermidade.

"Considerando exclusivamente o IMC, também atletas com grande massa muscular apresentam um índice alto", lembra Susanna Wiegand, diretora do ambulatório pediátrico de obesidade e adiposidade da renomada Clínica Charité de Berlim.

"Por outro lado, há já alguns anos existe o conceito de healthy obesity [obesidade saudável], ou seja: indivíduos que têm excesso de peso, mas não são doentes. Assim, uma definição de obesidade exclusivamente com base no IMC pode ser muito inexata, incluindo também quem não sofre de obesidade."

Martin Wabitsch, diretor do departamento de endocrinologia e diabetologia pediátrica da Clínica Universitária de Ulm, concorda: aplicada na prática, a nova proposta de definição poderia constituir "um grande marco para um melhor atendimento dos pacientes atingidos", já que "até agora tínhamos dificuldade de definir como doença a obesidade entre crianças e adolescentes".

"Muitos afirmavam que é algo que passa com o crescimento, o que é cientificamente errado. Com essa nova abordagem, a obesidade só será classificada como doença se houver distúrbios objetivos de uma função orgânica, ou uma limitação clara nas atividades cotidianas. Isso vai ajudar a oferecer uma terapia adequada, pelo menos para esse grupo infanto-juvenil", espera Wabitsch.

Contra: planos de saúde podem se recusar a custear terapias

Para o médico Thomas Reinehr, por sua vez, a nova terminologia é igualmente vaga demais, com valor agregado restrito, e não se estabelecerá, até porque a medição do IMC é exata e bastante reproduzível.

"Esse não é o caso, por exemplo, da medição da cintura ou da gordura corporal: examinadores diferentes chegam a circunferências distintas; e a taxa de gordura depende do consumo de líquidos e da hora do dia. Os métodos de mensuração mais exatos, como a calorimetria, são complicados demais para o dia-a-dia", afirma o pediatra da Clínica Infanto-Juvenil de Datteln, em Recklinghausen, no oeste da Alemanha.

A seu ver, a definição proposta resultaria em menos indivíduos serem classificados como obesos, dando a falsa impressão de que o problema diminuiu. Além disso, menos pacientes teriam sua terapia para redução de peso custeada pelos planos de saúde.

Reinehr considera a discussão sobre o IMC "na maior parte, de natureza acadêmica", pois hoje em dia os estudos clínicos e, acima de tudo, a classificação individual dos pacientes leva também em consideração eventuais comorbidades e a distribuição da gordura corporal.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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