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Opinião: A Venezuela está implodindo

5 ago 2018 - 09h36
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As notícias de mais uma tentativa de atentado contra Nicolás Maduro levantam muitas questões. Uma já está respondida: o presidente venezuelano é o único que pode ganhar com isso.Desta vez foram os "soldados de flanela". Nicolás Maduro já denunciou pelo menos 20 tentativas de golpes de Estado ou atentado em sua vida. Nenhum até agora lhe causou dano. Pelo contrário: o regime tira novas forças de todos os ataques - ocorridos de fato ou apenas supostos, perpetrados pelo "imperialismo internacional" ou pela "extrema direita" opositora.

Maduro no palanque no momento em que é ouvida a explosão
Maduro no palanque no momento em que é ouvida a explosão
Foto: DW / Deutsche Welle

Este caso mostra que a Venezuela se encontra não só numa grave crise política e econômica, mas que também chegou aso tempos de "fake news". Porque ainda não está claro se Maduro realmente foi alvo de um ataque com drone. Bombeiros disseram à agência de notícias AP que a causa da explosão teria sido um tanque de gás num apartamento.

Cada incidente como este dá a Maduro uma nova chance de promover uma caçada à oposição, ataques verbais a países vizinhos, como a Colômbia, e uma limpeza em suas fileiras e no Exército. E cada caso desvia a atenção dos cada vez mais insustentáveis problemas da Venezuela.

O episódio de sábado acontece três dias depois de Maduro anunciar uma nova política para gasolina - no meio de um apagão que deixou Caracas por horas às escuras. Um dia depois de o governo iniciar um censo de veículos no país, com o anúncio de que só quem participar poderá ter acesso às subvenções ao combustível.

Encher o tanque na Venezuela custa menos que um centavo de euro, mas o país, rico em petróleo, precisa importar a gasolina, porque a indústria nacional já há tempos está arruinada.

Há alguns dias, o Fundo Monetário Internacional divulgou a previsão de que a inflação na Venezuela deve atingir 1 milhão por cento. O governo quer, ainda neste mês, promover uma reforma cambial para tirar cinco zeros do bolívar. Em março já havia retirado outros três zeros. A inflação ignora os processo decisórios de uma ditadura.

Além da gasolina, há várias outras coisas subvencionadas na Venezuela - energia, transporte público, alimentos, medicamentos. Mas falta tudo, porque o país não fatura com as divisas que usa para importação. E a "revolução bolivariana" paralisou a capacidade produtiva nacional. São vários os relatos de hospitais com infraestrutura arruinada, crianças passando fome, emigrantes desesperados.

As tentativas do governo de contra-atacar não resultam apenas ineficazes - elas são ineficazes. A Venezuela está arruinada de tal forma, que pode levar décadas até que o país atinja, pelo menos, o patamar de seus vizinhos. E, para isso, não ajudam em nada as medidas do regime para afrouxar a política monetária. Num futuro próximo, até os apoiadores do chavismo não poderão mais serem abastecidos.

Poucas coisas podem ser tão perigosas para um governo do que o fim de subvenções. Disso há exemplos em vários países da América Latina - na Venezuela, inclusive. Nicolás Maduro sabe disso - mas praticamente não poderá evitar esse destino. Seu regime joga a Venezuela de forma certeira no abismo.

Isso não é, de forma alguma, motivo para justificar um atentado. Por trás de Maduro estão vários possíveis sucessores, que, do fim do regime, não podem esperar nada, e sim teriam muito o que temer. O momento de uma implosão se aproxima: o "socialismo do século 21", em algum momento, vai desabar sobre si mesmo.

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Uta Thofern é chefe do Departamento América Latina da DW.

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