Opinião: Execução de médicos no RJ precisa ser tratada como crime político
Caso Marielle é alerta: governo deve tratar a execução dos médicos como crime político e federalizar as investigações
Quatro médicos ortopedistas foram atacados à bala em um quiosque na praia da Barra, no Rio de Janeiro. Diego Ralf Bonfim, Marcos de Andrade Corsato e Perseu Ribeiro Almeida morreram na hora. Daniel Sonnewend Proença levou três tiros e está hospitalizado.
O vídeo do atentado não deixa dúvidas. Não foi assalto ou briga. Foi execução, execução que precisa ser investigada como crime político. Mesmo que os quatro estivessem no Rio simplesmente para um Congresso de Ortopedia. Mesmo que ao final se descubra que não houve motivação política nenhuma.
A razão é que Diego Ralf Bonfim é irmão de Sâmia Bonfim, por sua vez casada com Glauber Braga. Samia e Glauber são deputados, ela por São Paulo, ele pelo Rio.
Ambos são muito combativos. Ambos criticam e denunciam duramente a conexão da polícia com a milícia, da política com o crime organizado. Ambos são anti-bolsonaristas e do PSOL, como Marielle Franco.
Samia, Glauber e o filho deles já foram ameaçados de morte. Até registraram boletim de ocorrência sobre isso em agosto de 2022.
A execução está sendo investigada pela Polícia Civil do Rio. O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, pediu à Superintendência da PF no Rio que mantenha contato com a Polícia Civil carioca para “buscar informações”. Os resultados apresentados no caso Marielle Franco não permitem otimismo. A polícia carioca tem asco do PSOL. E uma grande parte tem conexões com milícias e facções.
A repercussão nacional e internacional será enorme e a pressão precisa ser intensa. É preciso descobrir quem matou, porque matou, e quem mandou matar. E rápido, e de maneira que não deixe dúvidas. Isso só acontecerá com a federalização das investigações.
(*) André Forastieri é jornalista, sócio da consultoria Compasso e fundador de Homework. Conheça melhor seu trabalho em andreforastieri.com.br.