Opinião: O socialismo étnico da China
Que ditaduras comunistas oprimem seus opositores já é algo conhecido. A novidade é a sistemática ação brutal do líder chinês Xi Jinping contra minorias étnicas no país, opina Alexander Görlach.Recentemente, foi revelado que a China está impondo trabalho forçado a milhares de pessoas no Tibete. Desde a anexação do montanhoso país budista em 1950, a República Popular fez de tudo para isolar o Tibete e eliminar sua independência cultural. No mundo livre, a pessoa do Dalai Lama é o símbolo mundial das consequências das atividades chinesas. Ao mesmo tempo, ao longo de décadas passamos a nos acostumar a isso.
No entanto, não é possível mais se ignorar que a liderança comunista de Xi Jinping, que, ao contrário de seus antecessores, tem uma interpretação étnica do socialismo chinês, discrimina e oprime as minorias em muitos lugares de seu enorme país. Há apenas algumas semanas, chegou a notícia terrível da Mongólia Interior de que a independência cultural dos mongóis deve ser drasticamente restringida.
Um milhão em campos de concentração
Tudo isso, no entanto, é ofuscado pelas atrocidades que a China está perpetrando em Xinjiang, onde mais de um milhão de pessoas estão presas em campos de concentração por causa de sua etnia e religião. Os relatos vão de lavagem cerebral a abortos forçados. Por isso, o Congresso dos EUA já está a ponto de classificar a situação em Xinjiang como genocídio.
Em Xinjiang, na Mongólia Interior e no Tibete, as pessoas que tradicionalmente habitam essas regiões pertencem a um grupo étnico diferente da maioria da população do país, da etnia han. Todas as 56 etnias da China gozavam de alguma igualdade perante a lei até o presidente Xi assumir o cargo em 2012. Xi Jinping, que será eleito presidente vitalício em 2023 se tudo der errado, acabou com isso.
Hong Kong também é conflito étnico
A maioria do povo de Hong Kong também não é de chineses han, mas de cantoneses, também um grupo étnico diferente. O furor de Pequim, com o qual são minados a independência da cidade e os direitos de seus residentes, previstos em acordos internacionais, em parte também pode ser atribuída à política étnica implementada por Xi e sua nomenclatura. No mundo livre, as pessoas ainda não entenderam por que Pequim não esperou até 2047. Este ano é quando expiraria de qualquer forma o princípio "um país, dois sistemas", que dá direitos democráticos a Hong Kong. A China teria vencido então.
Para a China, porém, o que importa nesse ponto não é uma política racional, mas a ideologia, que considera haver uma primazia, uma supremacia dos han sobre as outras etnias. As pessoas do outro lado do tratado, neste caso Hong Kong, Tibete, Mongólia Interior e Xinjiang, não são vistas como parceiras. Isso explica o comportamento desumano que o PC mostra para com as pessoas que, na verdade, são todas cidadãs da China.
Taiwan é exceção
A única exceção aqui é Taiwan. O país democrático que emergiu da guerra civil é habitado por 23 milhões de pessoas, a grande maioria das quais é de chineses han. Talvez a República Popular esteja hesitante em atacar o Estado insular porque tal ataque seria entendido pelos militares como uma nova versão da guerra civil que ocorreu há mais de 70 anos.
O verdadeiro problema de Xi Jinping com a democrática Taiwan é que milhões de pessoas vivem com sucesso e felizes em uma democracia livre - um estilo de vida que o presidente chinês afirma ser estranho aos chineses, por causa de sua herança cultural. Não se pode falar em genocídio contra os taiwaneses, pois a China teria primeiro de ocupar a ilha. Xi ameaçou isso várias vezes. Uma vez que os EUA deram à nação insular uma espécie de garantia de segurança, embora não esteja claro se também inclui a opção de guerra, o conflito de Taiwan permanece em um certo limbo. É totalmente óbvio que se a China invadisse Taiwan, a cultura liberal e a democracia do lugar também seriam destruídas.
Cinco genocídios
A China de Xi, portanto, tem cinco genocídios em andamento, que estão em diferentes estágios de conclusão. Cada pessoa do mundo livre deve sentir um frio na espinha ao imaginar isso. A discussão sobre como devemos lidar com a China no futuro, portanto, não é de forma alguma prematura.
Em retrospecto, parece, infelizmente, ter sido um erro a inclusão da China na ciranda do mundo civilizado, que após o horror da Revolução Cultural se preparou para abrir um novo capítulo com o país, especialmente sob a impressão dos sucessos do reformador Deng Xiaoping. "Um país, dois sistemas" está morto, assim como a política "Uma China", que foi enterrada no momento em que Pequim lançou suas ameaças de guerra contra Taiwan. Sob Xi Jinping, o país não é mais uma esperança para a economia mundial, mas uma ameaça à paz mundial.
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Alexander Görlach é membro sênior do Carnegie Council for Ethics in International Affairs e pesquisador associado do Instituto de Religião e Estudos Internacionais da Universidade de Cambridge.