Ortega nega haver perseguição a opositores na Nicarágua
Em entrevista exclusiva à DW, presidente rejeita acusações da ONU sobre violações dos direitos humanos no país e alega que seu governo está sofrendo uma tentativa de golpe de Estado financiada pelos Estados Unidos.Em entrevista à DW em Manágua, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, negou que seu governo tenha promovido perseguição de manifestantes - conforme acusou um relatório das Nações Unidas - e afirmou que uma tentativa de golpe de Estado está em curso em seu país.
"O que tem acontecido no momento é uma tentativa de golpe de Estado. Então, quem são os golpistas? Os golpistas são a força alimentada pelos Estados Unidos", declarou o mandatário, acusando o governo americano de tentar interferir na política nicaraguense.
Questionado sobre um possível papel da Alemanha como mediadora do diálogo entre governo e oposição, Ortega rebateu: "O melhor apoio que nações como a Alemanha podem oferecer nesse momento é dizendo aos Estados Unidos que não se lancem novamente contra a Nicarágua."
O país centro-americano enfrenta uma profunda crise sociopolítica, marcada por uma repressão violenta do governo em protestos contra o presidente, que já deixou centenas de mortos.
Os atos começaram em 18 de abril, motivados pelos planos de Ortega de reformar o sistema previdenciário do país, aumentando contribuições e reduzindo benefícios. O governo acabou voltando atrás, mas a repressão aos manifestantes provocou protestos ainda maiores.
Quando as manifestações eclodiram, a Igreja Católica da Nicarágua se ofereceu para fazer um intermédio entre estudantes, opositores e o governo. "Uma tentativa de diálogo foi feita, mas simplesmente não funcionou", disse o presidente à DW.
"Temos bispos realmente interessados em buscar a paz na Nicarágua. Mas há outros bispos que estão comprometidos com o golpe", afirmou. "Quando você tem uma Conferência episcopal [conjunto de bispos de uma nação] na qual um grupo de bispos abertamente diz ser a favor do golpe, então isso contamina toda a Conferência episcopal como instituição."
A tensão no país acabou se intensificando e, na semana passada, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh) emitiu um relatório acusando o governo da Nicarágua de uma série de violações de direitos humanos desde 18 de abril.
Segundo o documento, a gestão de Ortega fez vista grossa para grupos armados que cercaram manifestantes. O Acnudh também denunciou o uso desproporcional da força e execuções extrajudiciais pela polícia, desaparecimentos, detenções arbitrárias generalizadas e casos de tortura e violência sexual em centros de detenção.
"A repressão e a retaliação contra os manifestantes continuam na Nicarágua, enquanto o mundo desvia o olhar", dizia um comunicado. "A violência e a impunidade dos últimos quatro meses evidenciaram a fragilidade das instituições do país e do Estado de Direito e criaram um clima de medo e desconfiança."
Em entrevista à DW, Ortega foi veemente em negar tal acusação. "Não existe qualquer perseguição na Nicarágua", afirmou.
Ele também alegou que o número de mortos nas manifestações foi inflado por organizações de direitos humanos aliadas à oposição. A ONU estima que mais de 300 pessoas morreram e 2 mil ficaram feridas desde o início dos protestos no país.
A Nicarágua vive a crise mais sangrenta da história do país em tempos de paz e a mais forte desde a década de 1980, quando Ortega também foi presidente (1985-1990). Há 11 anos no poder, ele enfrenta acusações de abuso e corrupção.
Os opositores o acusam de ser um ditador e exigem que ele deixe o cargo - ou que sejam realizadas eleições antecipadas no país. À DW, contudo, ele voltou a rejeitar a possibilidade de renúncia ou de uma nova convocação às urnas.
EK/dw
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