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Outubro Rosa: Mulheres com alto risco de câncer de mama ainda enfrentam longas filas de espera

Mulheres cujas mamografias indicam lesões suspeitas - e que deveriam receber prioridade - enfrentam em média mais de 60 dias de espera para confirmar o diagnóstico e iniciar o tratamento

30 out 2024 - 10h20
(atualizado às 11h02)
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O Brasil enfrenta ainda muitos desafios que comprometem a saúde e a vida de mulheres com câncer de mama, apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento. O câncer de mama é o segundo tipo mais comum entre as mulheres e a principal causa de morte por câncer no país.

Dados recentes do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional do Câncer (Inca) mostram que, em 2023, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou cerca de 4 milhões de mamografias de rastreamento a partir dos 35 anos de idade. Desse total, 2,6 milhões dos exames foram mulheres com idade entre 50 e 69 anos, sendo 395 mil com finalidade diagnóstica, ou seja, para identificar achados suspeitos.

Dentre as mamografias realizadas, cerca de 20 mil apresentaram resultados que indicam suspeitas graves e altamente sugestivas de câncer (BI-Rads 4 e 5). A classificação internacional BI-Rads (Breast Imaging Reporting and Data System) é adotada para padronizar os laudos de mamografias, variando de 0 a 6 conforme o nível de suspeita de câncer.

A média brasileira de resultados BI-Rads 4 e 5 nas mamografias de rastreamento permanece em 11,8%, próximo ao limite superior considerado aceitável (12%) pelo Breast Cancer Surveillance Consortium. Em algumas regiões, como Distrito Federal, Roraima, Tocantins, Maranhão, Pará, Amapá, Ceará e Rio Grande do Norte, as taxas chegaram a 14% ou mais.

Resultados BI-Rads 4 indicam que a lesão é suspeita, com uma chance de malignidade que varia entre 10% e 50%, enquanto os resultados BI-Rads 5 apresentam uma probabilidade superior a 95% de câncer. Essas informações deveriam ser suficientes para facilitar uma navegacão rápida e eficiente pelo sistema ou, no mínimo, agilizar uma biópsia.

Nos dias atuais, mulheres que recebem esses resultados enfrentam filas de espera junto com muitas outras mulheres para confirmar o diagnóstico e iniciar o tratamento, o que é um despropósito sob qualquer ponto de vista.

Se já sabemos que esses casos são de alto risco, por que o sistema de saúde não implementa uma política objetiva, efetiva e necessária para atender com celeridade essas mulheres?

A demora ou rapidez no atendimento e agilidade nos exames muitas vezes é o que define se elas irão viver (e qual será sua qualidade de vida) ou morrer. Esse é um gargalo que precisa ser solucionado com urgência pelas autoridades de saúde.

Vale destacar e parabenizar aqui que, pelo menos, no Estado de São Paulo essa regra já existe e consta no protocolo de alta suspeição. O protocolo está em revisão neste momento, com previsão de amplo treinamento das equipes da atenção primária, que são as protagonistas deste assunto. Quem acolhe, direciona e acompanha.

Depois da mamografia

A espera pelo início tratamento é um fator crítico. Os números oficiais revelam que, em 2023, cerca de 50,9% das mulheres com câncer de mama levaram mais de 60 dias para iniciar o tratamento após a confirmação do diagnóstico. A situação é ainda mais preocupante nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde os atrasos são mais pronunciados. Em 2022, essa taxa foi de 59,5%. Mesmo assim, o índice permanece muito elevado.

Em contrapartida, as regiões Sul e Sudeste registram uma maior proporção de tratamentos iniciados dentro do prazo estipulado pela Lei 12.732/2012, que determina o começo do tratamento oncológico em até 60 dias após a confirmação do diagnóstico. Essa lei foi uma conquista importante, mas sua implementação eficaz é imprescindível para que as pacientes recebam o cuidado necessário no tempo adequado.

O diagnóstico tardio agrava o panorama. Infelizmente, cerca de 41,2% (2023, MS/Inca) dos casos de câncer de mama ainda são encontrados em estágios avançados (III e IV), o que representa um desafio significativo para o sistema de saúde.

Em locais como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, os percentuais de diagnósticos em estágios iniciais (in situ e I) são mais altos, representando quase um terço dos casos. Porém, em áreas como Alagoas, Mato Grosso, Amazonas, Amapá, Ceará e Pará, mais da metade dos diagnósticos ocorre em estágios avançados, o que aumenta a complexidade e o desgaste do tratamento.

A continuidade dessas mulheres no sistema de saúde após o diagnóstico segue ainda burocrática, demorada e desumanizada. Persistem falhas graves na comunicação entre o sistema de saúde e as pacientes, levando a atrasos que podem comprometer a eficácia do tratamento. É evidente que um sistema transparente e mais eficaz precisa ser implementado, assegurando que essas mulheres sejam chamadas para o acompanhamento e o tratamento sem demora.

Não se trata somente de aumentar o número de mamografias, mas da necessidade de garantir que as mulheres com resultados BI-Rads 4 e 5, bem como aquelas com histórico familiar de câncer, sejam atendidas com a urgência que suas condições exigem.

Transformar o cenário do câncer de mama no Brasil exige uma abordagem ampla que associe ciência, tecnologia e um atendimento empático. Cada dia de espera, cada consulta perdida, é uma vantagem a menos diante de uma doença que pode ser curada ou controlada.

Se já sabemos quem mais precisa de atenção, por que não utilizar a tecnologia existente para priorizar esses casos?

E embora saibamos que o SUS opere com limitações de recursos e uma alta demanda, é cada vez mais possível utilizar tecnologia e ciência para priorizar quem mais precisa de atendimento. O uso de algoritmos e protocolos, juntamente com campanhas que conscientizem sobre a importância do rastreamento e do tratamento, é o caminho que devemos seguir. É hora de agir, é hora de priorizar, é hora de salvar vidas.

The Conversation
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Foto: The Conversation

Luciana Holtz é líder do Instituto Oncoguia, que conta com o patrocínio institucional de empresas farmacêuticas para pesquisas, campanhas, projetos educativos e eventos.

The Conversation Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons
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