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Papa admite que padres e bispos abusaram sexualmente de freiras

5 fev 2019 - 18h56
(atualizado às 19h32)
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Após revista do Vaticano chamar atenção para a questão, Francisco reconhece abusos de freiras, mencionando casos de escravidão sexual. Pontífice afirma que Igreja vem combatendo o problema e promete fazer mais.O papa Francisco admitiu pela primeira vez nesta terça-feira (05/02) que padres e bispos católicos abusaram sexualmente de freiras, prometendo fazer mais para combater o problema.

"Não é que todos façam isso, mas houve padres e bispos que o fizeram", afirmou o papa Francisco
"Não é que todos façam isso, mas houve padres e bispos que o fizeram", afirmou o papa Francisco
Foto: DW / Deutsche Welle

"Não é que todos façam isso, mas houve padres e bispos que o fizeram", afirmou o pontífice em viagem de retorno dos Emirados Árabes Unidos, ao ser questionado por um jornalista sobre o abuso de freiras. "Acho que continua acontecendo, porque não é algo que simplesmente desaparece."

O papa afirmou que a Igreja já suspendeu clérigos devido a casos de abuso de freiras e que o Vaticano está trabalhando na questão há bastante tempo. "Deveríamos fazer algo mais? Sim. Há vontade para isso? Sim. Mas é um caminho que já começamos a trilhar", disse.

Francisco afirmou que, em 2005, o papa Bento 16 adotou medidas contra uma ordem religiosa após algumas irmãs terem sido transformadas em "escravas sexuais" pelo fundador da ordem e outros padres. Ele não nomeou o grupo, mas o porta-voz do Vaticano disse se tratar de uma ordem na França.

A questão do abuso sexual de freiras chegou às manchetes no ano passado, quando uma religiosa acusou um bispo indiano de estuprá-la repetidas vezes. Veículos de comunicação denunciaram em 2018 casos de abusos de freiras também na África, na Europa e na América do Sul.

O papa afirmou que o problema pode ocorrer em qualquer lugar, mas que é prevalente em "algumas novas congregações e em algumas regiões". Ele afirmou que os maus-tratos contra mulheres são um problema na sociedade como um todo, com elas continuando a ser consideradas "cidadãs de segunda classe".

"É um problema cultural. Ouso dizer que a humanidade não amadureceu", disse Francisco, acrescentando que em alguns lugares os maus-tratos chegam ao ponto do feminicídio.

A edição deste mês da Women Church World - um suplemento distribuído com o jornal Osservatore Romano, do Vaticano - alertou para o fato de que freiras vêm mantendo há décadas o silêncio sobre abusos, por temerem retaliações. Segundo a publicação, o Vaticano já teria recebido relatos de padres abusando de freiras na África nos anos 1990.

"Se a Igreja continuar fechando os olhos para o escândalo - que se torna ainda pior pelo fato de que o abuso de mulheres resulta em procriação e, portanto, está na origem de abortos forçados e de filhos que não são reconhecidos por padres -, a opressão de mulheres na Igreja nunca mudará", escreveu a editora do suplemento, Lucetta Scaraffia.

No recente caso na Índia, o bispo Franco Mulakkal foi preso em 21 de setembro passado sob suspeita de estuprar a freira que fez a denúncia 13 vezes entre 2014 e 2016. O papa Francisco suspendeu Mulakkal um dia antes de sua prisão. O bispo, de 53 anos, nega as acusações. Numa rara demonstração de dissidência dentro da Igreja na Índia, cinco freiras e dezenas de apoiadores participaram de várias jornadas de protesto no país.

O fato de membros da Igreja Católica não terem tomado medidas contra alegações de abuso sexual tem sido um dos principais escândalos a atingir a instituição mundo afora nos últimos anos. Em dezembro passado, o papa afirmou que a Igreja jamais voltaria a acobertar abusos sexuais.

LPF/afp/ap/rtr

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