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Parlamento alemão declara Holodomor ucraniano como genocídio

30 nov 2022 - 19h52
(atualizado em 1/12/2022 às 06h22)
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Partidos da coalizão do governo Scholz aprovam resolução que classifica morte de milhões de ucranianos nos anos 30, durante o jugo soviético, como "crime contra a humanidade". Ultradireita e esquerda se abstêm.Deputados alemães aprovaram nesta quarta-feira (30/11) uma resolução que declara as ações do governo soviético que resultaram na morte de milhões de ucranianos entre 1932 e 1933 como genocídio.

Partidos da coalizão do governo Scholz, que têm maioria no Bundestag, e oposição conservadora votaram a favor da resolução
Partidos da coalizão do governo Scholz, que têm maioria no Bundestag, e oposição conservadora votaram a favor da resolução
Foto: DW / Deutsche Welle

O fatídico episódio é chamado de Holodomor, que em ucraniano significa "morte por fome", e foi causado por políticas do regime soviético liderado pelo ditador Josef Stalin.

A resolução também aponta que o Holodomor constitui um "crime contra a humanidade". "A liderança política da União Soviética sob Josef Stalin foi responsável", diz o texto.

Os três partidos da coalizão governista do chanceler federal Olaf Scholz, os

social-democratas (SPD), verdes e liberal-democratas (FDP), bem como a principal sigla da oposição, os democratas-cristãos (CDU) e a conservadora União Social Cristã (CSU), votaram a favor da resolução no Parlamento (Bundestag).

O deputado verde Robin Wagener disse durante discurso no Parlamento que "a morte pela fome também teve como objetivo a repressão política da identidade nacional, cultura e língua ucranianas". Ele ainda disse que "os paralelos com a atualidade são claros" - um ponto repetido por outros oradores no Parlamento nove meses após o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia.

"A atual guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia está inserida nesta tradição histórica", disse o deputado conservador Volker Ullrich.

Ultradireita e Esquerda se abstêm

Durante a votação da resolução, o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) e a legenda A Esquerda, que reúnem juntas mais pouco mais de 100 deputados, escolheram se abster.

Estima-se que o Holodomor tenha provocado a morte de pelo menos 3,5 milhões de ucranianos. O episódio foi negado pela União Soviética até 1987, foi muito debatido no final dos anos 80 e e é hoje considerado uma das maiores políticas de extermínio em massa na Europa no século 20, antes do Holocausto.

Em 2006, a Ucrânia reconheceu a grande fome como um genocídio. Todos os anos, no quarto sábado de novembro, o país presta suas homenagens às vítimas no Dia em Memória ao Holodomor.

A Rússia, por outro lado, nega veementemente o genocídio, alegando que não foram apenas ucranianos, mas também russos, cazaques, alemães da região do rio Volga e outros que foram vítimas da grande fome no início da década de 30.

Ao justificar a abstenção, o deputado da AfD Marc Jongen denunciou o que chamou de "instrumentalização da história" e se opôs a uma "equação histórica" com a atual guerra na Ucrânia. Nos últimos anos, deputados da ultradireitista AfD provocaram repúdio na Alemanha por posições pró Putin e por viajarem à Crimeia ocupada.

Já na legenda A Esquerda, que foi em parte fundada por remanescentes do antigo partido comunista da Alemanha Oriental, o deputado Gregor Gysi também alertou contra tentativas de traçar equivalências entre o ditador Adolf Hitler e Josef Stalin: "Stalin era ruim, muito ruim, mas nenhum Hitler", disse.

Embaixador ucraniano elogia resultado

Após a aprovação da resolução, o embaixador da Ucrânia na Alemanha, Oleksii Makeiev, disse à DW estar "muito satisfeito" com a decisão do Bundestag.

"Esta é uma decisão muito importante do Parlamento alemão que os ucranianos esperam há décadas. Também é importante que hoje todos os oradores da coalizão de governo e da oposição façam paralelos com a guerra genocida, que está sendo liderada pela Federação Russa contra a Ucrânia. Portanto, todos esses crimes, crimes genocidas, crimes contra a humanidade e crimes de guerra devem ser punidos."

Alguns historiadores afirmam que Stalin orquestrou propositadamente a fome para eliminar o movimento de independência ucraniano. Outros dizem que o Holodomor foi o resultado das políticas fracassadas da União Soviética para coletivizar terras agrícolas.

Já a resolução apresentada ao Bundestag adotou a seguinte linha: "as mortes em massa por fome não foram resultado de colheitas fracassadas; a liderança política da União Soviética sob Josef Stalin foi responsável por elas."

A Alemanha não é o primeiro país a reconhecer o Holodomor da Ucrânia como genocídio. De acordo com o Museu Holomodor em Kiev, 16 países até agora reconheceram o episódio como genocídio: Austrália, Equador, Estônia, Canadá, Colômbia, Geórgia, Hungria, Letônia, Lituânia, México, Paraguai, Peru, Polônia, Portugal, Estados Unidos e Vaticano.

jps (DW, ots)

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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