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Pastor do gabinete paralelo do MEC esteve no Planalto 35 vezes

Arilton Moura é apontado como autor de pedidos de propina; Gilmar Santos, outro citado no esquema, fez 10 visitas ao Palácio

14 abr 2022 - 20h27
(atualizado às 23h08)
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BRASÍLIA - Os pastores evangélicos que operaram o gabinete paralelo no Ministério da Educação (MEC) durante a gestão do ex-ministro Milton Ribeiro estiveram dezenas de vezes no Palácio do Planalto na gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL). Os registros da segurança do Planalto contam 35 acessos do pastor Arilton Moura e outros 10 de Gilmar Santos, da Assembleia de Deus Cristo para Todos.

Inicialmente, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) se recusou a fornecer os dados sobre as visitas, solicitados por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).

Como mostrou o Estadão em março, Gilmar e Arilton controlavam a agenda e a liberação de verbas do MEC durante a gestão de Milton Ribeiro. A dupla intermediava o acesso dos municípios a verbas da pasta e, em troca, pediam propina - no último dia 5, três prefeitos confirmaram numa audiência da Comissão de Educação do Senado ter recebido dos pastores pedidos de vantagem indevida.

Milton Ribeiro, que é pastor da igreja Presbiteriana, foi exonerado do cargo de ministro em 28 de março, após reportagens do Estadão revelarem pedidos de propina em dinheiro, barras de ouro e até por meio da impressão de Bíblias elaboradas por uma editora de Gilmar Santos. As primeiras reportagens mencionam encontros da dupla de pastores com o presidente Jair Bolsonaro.

As informações sobre as visitas dos pastores ao Palácio do Planalto foram obtidas pelo jornal O Globo, por meio da Lei de Acesso à Informação. No despacho que concedeu acesso ao material, o GSI afirmou que a decisão de franquear a informação foi tomada após "recente manifestação da Controladoria-Geral da União (CGU) quanto à necessidade de atender o interesse público".

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Bolsonaro ironiza '100 anos' de sigilo

Na quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro respondeu com ironia a um internauta que cobrou transparência sobre as agendas dos pastores no Planalto. "Presidente, o senhor pode me responder porque (sic) todos os assuntos espinhosos/polêmicos do seu mandato, você põe sigilo de 100 anos? Existe algo para esconder?", perguntou o internauta. "Em 100 anos saberá", respondeu Bolsonaro por meio de sua conta oficial no Twitter.

De acordo com a resposta do Planalto, Arilton Moura esteve no Planalto pela primeira vez em 16 de janeiro de 2019, no primeiro mês do governo, para um compromisso no GSI, chefiado pelo ministro Augusto Heleno. Já Gilmar Santos esteve no local pela primeira vez em 21 de fevereiro, para uma reunião na Casa Civil - à época, a pasta era comandada por Onyx Lorenzoni, hoje pré-candidato do PL ao governo do Rio Grande do Sul.

Bolsonaro, à direita, ao lado do pastor Arilton Moura. Em segundo plano, o pastor Gilmar Santos. No plano de fundo, o ministro Milton Ribeiro, da Educação. 
Bolsonaro, à direita, ao lado do pastor Arilton Moura. Em segundo plano, o pastor Gilmar Santos. No plano de fundo, o ministro Milton Ribeiro, da Educação.
Foto: Pastor Gilmar Santos/Instagram / Estadão

Arilton foi ao local sozinho 26 vezes, e Gilmar uma. Os dois estiveram juntos em nove ocasiões. Arilton esteve no Planalto ao menos seis vezes depois da CGU abrir uma investigação sobre a atuação dos pastores no MEC, em agosto passado. Gilmar foi três vezes no mesmo período. O último registro de ambos no Planalto foi em 16 de fevereiro deste ano, na Casa Civil, já sob o comando do ministro Ciro Nogueira (PP).

Mesmo sem qualquer vínculo com o Ministério da Educação ou outro órgão público, Arilton Moura e Gilmar Santos costumavam participar de encontros de autoridades do MEC com prefeitos de todo o Brasil - tanto na sede do ministério, em Brasília, quanto em cidades do interior do País. Com frequência, os prefeitos levados ao MEC pela dupla conseguiam a liberação de verbas com rapidez incomum - em um caso mostrado pelo Estadão, uma prefeitura maranhense conseguiu um empenho de R$ 200 mil apenas 16 dias após uma agenda com Milton Ribeiro e os pastores.

Estadão
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