Peter Thiel, o bilionário alemão que assessora Trump
Entre os assessores de Donald Trump, está também um alemão crescido nos EUA que tem sempre apoiado azarões - como PayPal ou o Facebook. Até o momento, com sucesso.Peter Thiel sempre teve um bom faro para as oportunidades realmente grandes. Seu lema: "Nunca corra atrás de uma tendência que está em todas as bocas. Nade contra a corrente!" No Silicon Valley, a região dos Estados Unidos com as empresas mais inovadoras do mundo, ele aplicou tudo o que tinha em 1998, investindo cerca de 300 mil dólares no então desconhecido serviço de pagamentos online PayPal, de seu amigo Elon Musk (futuro fundador da Tesla).
Em 2002 ele ficou tão rico com a venda da PayPal, que adquiriu, por 500 mil dólares, 10% de uma firma que ainda estava bem no começo em 2004, e em cujo modelo de negócios ninguém realmente acreditava, na época: currículos e autodivulgação na internet. Hoje: Facebook.
Prazer de provocar
Peter Thiel nasceu em 1967 em Frankfurt, mas cresceu nos EUA, para onde seus pais emigraram. Como explicou a jornalistas em Hamburgo, hoje o seu domínio do idioma alemão é no nível de um garoto de 12 anos. Depois de estudar filosofia e direito na renomada Universidade Stanford, trabalhou alguns meses num escritório de advocacia em Nova York.
Em seguida passou para o banco de investimentos Credit Suisse, onde aprendeu os fundamentos da futura atividade como investidor de risco. Hoje, sua empresa Founders Fund detém participação em várias companhias, inclusive na Airbnb, que media online acomodações privadas para viajantes.
Thiel adora empreendedores, gente que investe toda energia em construir algo, contra todas as vicissitudes. Com entusiasmo anárquico, o bilionário financiou jovens abaixo de 20 anos com 100 mil dólares anuais. Como única condição, eles tinham que fundar a própria empresa a partir de uma ideia genial e única, abandonando imediatamente a universidade.
Ao lado de Trump
Como para Thiel o prazer de provocar está sempre presente, alguém como Trump o impressiona. Com 1,25 milhão de dólares, uma ninharia para ele, Thiel apoiou Trump desde o início. No clube de imprensa de Washington, contudo, ele deixou claro: "Não concordo com tudo o que Donald Trump disse ou fez. Seus comentários sobre as mulheres são inaceitáveis: são contundentes e totalmente impróprios."
Com a mesma convicção, contudo, o investidor afirma: "Trump está certo nos pontos principais e decisivos. O que ele representa não é maluquice, nem vai desaparecer. Quando esta corrida eleitoral estiver esquecida e a história desta época for escrita, restará a pergunta: se a nova política não chegou tarde demais."
Thiel justifica seu apoio a Trump com poucos fatos. Segundo ele, nos Estados Unidos a medicina é dez vezes mais cara do que em qualquer outro lugar do mundo. A montanha de dívidas que os jovens contraem para cursar a universidade cresce mais rápido do que a inflação, chegando à casa dos bilhões. Além disso, a atual administração americana desperdiçaria bilhões de dólares de impostos em guerras em lugares distantes e quase impossíveis de vencer. A coisa não pode continuar assim, exige Thiel: Trump quer mudar isso, e por isso merece todo apoio.
"Não se deve levar Trump ao pé da letra"
Como libertarista, Thiel defende a máxima: quanto menos intervenção estatal, melhor. Na campanha presidencial de 2008, ele já apoiara o candidato de cunho libertário Ron Paul, que concorria pelo Partido Republicano. O bilionário pretende aplicar na política o que aprendeu em Silicon Valley: "Meu ideal é um governo pequeno, que consegue mais com menos." E os debates ideológicos em Washington, infelizmente, vão sempre em direção contrária: só se consegue mais com mais esforço.
Isso tudo está errado, postula Thiel. "Na indústria de tecnologia o que vale é sempre fazer mais com menos energia. Uma perspectiva muito mais saudável". Ele discorda de qualquer acordo de livre-comércio, e promete auxiliar Trump na rejeição desse tipo de pacto.
Há alguns anos, divulgou-se que Thiel seria homossexual. Diante das afirmações de Trump sobre o casamento gay, ele foi naturalmente questionado pela mídia se conseguiria mudar a posição do presidente eleito.
"Eu não tive nenhuma conversa com o Sr. Trump sobre este ponto específico", contemporizou, acrescentando que, de qualquer forma, vale o que os eleitores de Trump já compreenderam: que não se deve tomá-lo ao pé da letra, mas levá-lo a sério em todos os pontos. "Não se trata, realmente, de construir uma muralha como na China, mas de se encontrar uma política migratória sensata", exemplifica o assessor de Trump, pensando em regras como as empregadas há anos pelo Canadá e a Austrália.
Assesor - e mais ainda?
Na noite desta segunda-feira (14/11), súbito ouviram-se em Washington boatos de que Peter Thiel poderia tornar-se mais do que apenas um assessor numa equipe de transição, pois Donald Trump apreciaria muito a pessoa e os conselhos do versátil alemão.
Horas depois, contudo, os rumores se dissiparam. Seus amigos de Silicon Valley o dissuadiram? Empresários e investidores poderosos ameaçaram afastar-se dos negócios? Thiel tampouco se manifestou a respeito. "Certamente houve discussões, mas minhas amizades e relações comerciais estão todas intactas."
O assessor Thiel não pretende se mudar para Washington. "Meu futuro vai continuar a ser na indústria de tecnologia. É onde eu sou bom e do que eu gosto." Segundo ele, a política parece terrível e destrutiva, mas há problemas que só podem ser resolvidos na arena política. "Eu resolvo essa questão para mim só me envolvendo ocasionalmente com a política, mas sem fazer dela um emprego de tempo integral."
Na vida privada, Thiel é um bem-sucedido jogador de xadrez. A questão é: de quem será a próxima jogada? Dele ou de Trump?