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Polarização no mundo leva à tentação de se culpar adversários

As declarações de Bolsonaro negando a gravidade do novo coronavírus e participando de manifestações que arriscam impulsionar a difusão da doença o colocam no patamar mais raso e irresponsável das respostas globais

17 mar 2020 - 05h11
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A pandemia do novo coronavírus é o maior desafio global desde a crise financeira de 2008 e tem desafiado governos de várias ideologias. A linha que os divide não é direita x esquerda, nem democracia x ditadura, mas que autoridades seguem as evidências científicas e quais as rejeitam em nome de suas visões idiossincráticas de mundo ou impulsos de conveniência.

Presidente Jair Bolsonaro se aproxima de manifestantes no Palácio do Planalto
Presidente Jair Bolsonaro se aproxima de manifestantes no Palácio do Planalto
Foto: Reprodução/Jair Bolsonaro / Estadão

O presidente do Brasil optou pela corrente populista que se recusa a agir segundo as melhores práticas aprendidas a duras penas pelos países que primeiro sofreram a pandemia. Suas declarações negando a gravidade do problema, responsabilizando a imprensa e participando de manifestações que arriscam impulsionar a difusão da doença o colocam no patamar mais raso e irresponsável das respostas globais.

A polarização vivida em vários países do mundo leva muitos cidadãos à tentação de culpar seus adversários ideológicos por tudo que dá errado em meio à pandemia. Mas, no campo conservador, há enorme distância que separa as atitudes firmes e equilibradas de Angela Merkel (Alemanha) do comportamento errático de Donald Trump (EUA).

À esquerda, observam-se igualmente grandes diferenças entre a responsabilidade de Pedro Sánchez (Espanha) ou Giuseppe Conte (Itália) e a negligência de López Obrador (México). Ou a tragédia anunciada que será a pandemia na Venezuela de Nicolás Maduro.

O Brasil é maior do que seu presidente. O País é também o Sistema Único de Saúde, em construção com tantos sacrifícios desde a redemocratização. É a ação do Congresso em busca de soluções, as ações de muitos governadores e prefeitos e o esforço da equipe econômica em encontrar recursos e elaborar pacotes de estímulo.

* DOUTOR EM CIÊNCIA POLÍTICA E PROFESSOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Estadão
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