Polícia encontra restos mortais em busca por jornalista britânico e indigenista na Amazônia; suspeito confessa
A polícia encontrou restos humanos em sua busca pelo jornalista britânico Dom Phillips e pelo indigenista brasileiro Bruno Pereira depois que um suspeito confessou tê-los matado na floresta amazônica, disseram os investigadores nesta quarta-feira.
O suspeito, um pescador que havia ameaçado Pereira por causa de seus esforços para combater a pesca ilegal em território indígena, levou a polícia a um local remoto onde os restos foram desenterrados, disse o superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Eduardo Fontes, em entrevista coletiva.
A notícia marca uma conclusão sombria para um caso que provocou indignação em todo o mundo, pairando sobre o presidente Jair Bolsonaro em uma cúpula regional na semana passada e aparecendo como assunto de preocupação no Parlamento britânico nesta quarta-feira.
Phillips, um repórter freelancer que já escreveu para os jornais The Guardian e Washington Post, estava fazendo pesquisa para um livro em uma viagem com Pereira, ex-coordenador da Funai responsável por povos indígenas isoladas e recém-contactados.
Os dois estavam em uma área remota de floresta próxima às fronteiras com a Colômbia e o Peru, chamada Vale do Javari, região que tem o maior número de povos indígenas não contactados no planeta. O local tem sido invadido por pescadores, caçadores, madeireiros e garimpeiros ilegais, e, segundo a polícia, é uma rota importante para o narcotráfico.
A polícia já havia identificado seu principal suspeito como o pescador Amarildo da Costa, conhecido como "Pelado", que foi preso na semana passada sob a acusação de porte de armas. Seu irmão Oseney da Costa, de 41 anos, ou "Dos Santos", foi levado sob custódia na terça-feira à noite.
"Foi realizada toda a reconstituição do crime, com autorização judicial, devidamente filmada. E depois nós fomos até o local onde ele (suspeito) anunciou que havia enterrado os corpos", disse Fontes na entrevista realizada em Manaus.
Defensores públicos representando os irmãos não puderam ser contactados imediatamente para comentários. A família dos suspeitos havia negado anteriormente qualquer papel no desaparecimento dos homens.
Fontes, da PF, disse aos jornalistas que o "primeiro suspeito" havia confessado e levado a polícia aos restos mortais, mas que o outro suspeito sob custódia havia negado qualquer papel, apesar de provas incriminatórias. A polícia está investigando o envolvimento de uma terceira pessoa e outras detenções são possíveis, acrescentou.
Os irmãos Costa foram vistos reunidos no rio Itacoaí momentos após a passagem de Phillips e Pereira em 5 de junho, em direção à cidade ribeirinha de Atalaia do Norte, disse uma testemunha à Polícia Federal, segundo em um relatório visto pela Reuters.
O relatório da polícia dizia que as testemunhas ouviram Pereira dizer que havia recebido ameaças de Amarildo da Costa. Ex-coordenador da Funai, Pereira foi fundamental em seu tempo na agência para impedir o garimpo de ouro e a pesca ilegal em rios habitados por povos indígenas do Vale do Javari.
A notícia do desaparecimento dos homens ecoou globalmente, com organizações de direitos humanos, ambientalistas e defensores da imprensa cobrando Bolsonaro a intensificar a busca após um início lento.
Bolsonaro, que já enfrentou duras perguntas de Phillips em uma entrevista coletiva sobre o enfraquecimento da aplicação da lei ambiental, disse na semana passada que os dois homens estavam em uma "aventura" que não é recomendada.
Nesta quarta-feira, Bolsonaro sugeriu que Phillips havia feito inimigos na região escrevendo sobre questões ambientais.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse ao Parlamento nesta quarta-feira que estava profundamente preocupado com o desaparecimento de Phillips, e disse que seu governo estava trabalhando com as autoridades brasileiras que investigam o caso.
"O que dissemos aos brasileiros é que estamos prontos para dar todo o apoio que eles precisarem", disse.
A esposa de Phillips, a brasileira Alessandra Sampaio, disse em nota que a notícia da morte do marido será o início de uma "jornada em busca por justiça".
"Embora ainda estejamos aguardando as confirmações definitivas, este desfecho trágico põe um fim à angústia de não saber o paradeiro de Dom e Bruno. Agora podemos levá-los para casa e nos despedir com amor", afirmou.