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   TAILOR DINIZ
tailordiniz@terra.com.br

O capacete e a alergia a camarão


O Teixeira era supersticioso desde criança. Não saía de casa sem antes ler o horóscopo e olhar em volta para ver se não circulava gato preto pelas adjacências. Por isso, quando o avião fez uma volta em baixa altitude e retornou à pista, poucos minutos após a decolagem, decidiu que, mesmo em outra aeronave, não viajaria mais naquele dia. Um urubu na turbina era sinal de azar. Por isso decidiu ir para casa e só viajar no dia seguinte.

Assim que meteu a chave na fechadura, ouviu um barulho estranho e não-identificado vindo de dentro do apartamento. Mas o Teixeira ainda vinha muito tenso por causa do pouso de emergência e não deu importância àquilo. Naquele momento ele queria mais era relaxar e esquecer a quase-tragédia que vivera momentos antes.

Abriu a porta e entrou.

Assim que meteu o pé para dentro do apartamento viu a Gina, sua mulher, que vinha ao seu encontro, enrolada num lençol, transtornada e ofegante, como se acabasse de ver o diabo em pessoa. O Teixeira, ainda muito tenso, a bem da verdade, não queria mais que uma cama para encostar o cadáver e relaxar um pouco. Por isso, só percebeu que havia um capacete de motoqueiro no caminho, ao lado da cama, quando tropeçou nele e quase caiu.

"O que é isso?", perguntou ele, um tanto intrigado.

"É um capacete, fofo!", respondeu a Gina, tentando aparentar
naturalidade.

"Sim, isso eu percebi", ele disse, jogando-se na cama.

"É uma simpatia pra curar a tua alergia a camarão!", começou a explicar a Gina. "Li na internet, fofinho. É tiro e queda!"

"Simpatia!?", inquiriu o Teixeira, procurando uma posição mais confortável sobre a cama do casal, entre cobertas revoltas e travesseiros amassados.

"Sim, fofo...", continuou ela, apanhando o capacete do chão. "Eu nem acredito muito nessas coisas, mas fico com uma peninha de ver você privado daquilo que mais gosta... Principalmente quando você viaja pra terra de Antônio Carlos e volta sempre tão abatidinho por ter que se privar daquele divino camarão no coco que a gente comia na nossa lua de mel, lembra?"

O Teixeira fez que sim com a cabeça, um olhar ainda um tanto
estranho, e a Gina continou, agora mais solta:

"A simpatia é assim, olha só fofo: a gente espera o marido viajar e põe um capacete de motoboy embaixo do travesseiro dele. Tem que ser um capacete usado, certo? Depois deixa o capacete o tempo todo embaixo do travesseiro e só retira quando o marido voltar. Quem já fez diz que é tiro e queda. Se bem não faz, mal também não faz, né amor...? A gente nunca sabe. O negócio é tentar. Se não tentar aí é que não dá certo mesmo, né fofo?"

E o panaca do Teixeira acreditou.

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