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   TAILOR DINIZ
tailordiniz@terra.com.br

O detetive e a banana split


O homem olhava para o detetive, no outro lado da mesa, e seu
rosto bem escanhoado e o olhar melancólico não deixavam
dúvidas de que algo o atormentava na parte mais funda da
alma. Talvez, lá com ele, cuidando-se para não ser ouvido,
dissesse algo do tipo: "Se a vida quis assim, o que poderei eu fazer contra a realidade cruel do destino..."

Sua extrema elegância não coadunaria com o mínimo gesto ou
palavra que denotasse desejo de vingança. No entanto, seu
espírito viril ainda não estava totalmente domado para evitar que, às vezes, deixasse pairar no ar, através de uma pausa na fala, de um quase-falsete a surpreender a voz máscula e grave, a pista de que ainda não conseguia conviver em paz com o seu fantasma maior.

"Doutor, a minha mulher está a me trair da forma mais torpe
possível", desabafou ele, como se o problema maior fosse a
torpeza da traição e não o ato propriamente dito.

O detetive ficou em silêncio, limitando-se apenas a olhar
aquele rosto que insistia em relutar da forma mais digna
possível contra a crueldade do destino.

"Gostaria de contratar os seus serviços. Se o senhor for agora, neste endereço, que é bem próximo daqui, poderá surpreender minha mulher em flagrante delito."

As fotos que agora tinha em mãos, enquanto seguia pela
calçada, permitiam ao detetive concluir que se tratava de uma mulher bonita e elegante. Havia nela um toque sutil de
sensualidade que ele não teve tempo de precisar bem onde, se
no olhar meio sonolento, no sorriso enviesado, ou na maneira
um pouco desleixada de soltar os cabelos ondulados sobre os
olhos de esmeralda.

Para surpresa dele, no entanto, o endereço em questão não era de um motel, como supôs. Nem whiskeria, nem curso de
strip-tease para mulheres casadas, nem nada. Havia ali, isto
sim, um buffet de sorvetes. E dos grandes, com 98 variedades.

Porque 98 e não 100 de uma vez?, pensou o detetive no exato
instante em que identificava a mulher, sentada em frente a uma banana split que mais parecia um carro alegórico da Estação Primeira passando na Sapucaí.

De volta ao escritório, foi logo dizendo ao seu tenso e neófito cliente:

"Trago ótimas notícias Sua esposa não está a traí-lo, meu
caro! E digo mais: pelo jeito com que devorava uma banana
split, é possível que não pensasse em outra coisa naquele
momento."

"Faça-me um relatório sobre isso, meu jovem", disse o
homem, preso a uma melancolia de estraçalhar a alma. "Cite
com clareza e detalhes o lugar onde ela estava e o que comia
naquele momento."

O detetive ficou sem entender, entre perplexo e curioso.

"Não fazem dois dias que saiu de um spa, a ingrata!", revelou o homem com a mesma melancolia.

"E sabe o que ela escondia naquela sacola camuflada da Christian Dior? Figos cristalizados, meu jovem! Várias caixas de figos cristalizados..."

E mergulhou no mais profundo e pesado silêncio até o detetive terminar o relatório.

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