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   TAILOR DINIZ
tailordiniz@terra.com.br

O último segredo de Kelly

Sexta, 20 de julho de 2001


A leiteira de alumínio onde era servida a caipirinha já havia dado a quarta volta quando o Dinei propôs que cada um dos presentes à festa revelasse o seu maior fetiche.

O Zecão abraçou a idéia na hora. Contou que para ficar doidão bastava ver na gaveta do armário um conjunto de lingerie roxa que a Paty (sua esposa) havia comprado durante as férias, em Ciudad del Leste.

Já o Alfeu anunciou que nada neste mundo o deixava mais assanhado que o pé da Nanda (a sua esposa, naturalmente) lhe acariciando a orelha depois de um banho bem quente. A Nanda, por sua vez, disse que nem as orelhas do padre Marcelo Rossi deixavam-na tão dispostinha para o amor quanto o cheiro do Alfeu depois do futebol na quadra da Igreja, domingo de manhã.

Portanto, tudo muito família, como se pode perceber.

Mas exigir bom senso em festa em que caipirinha é servida numa leiteira de alumínio, forrada com salsichão, pão com alho e cebola assada, também já é pedir demais.

A coisa tomou novos rumos quando chegou a vez do Valdoir, por coincidência o que mais enchia a caveira desde a primeira volta da caipira na leiteira de alumínio.

"Chega de hipocrisia, gente!", gritou ele, todo babado no queixo e nos cantos da boca. "O meu fetiche é aquele dragãozinho cuspindo fogo que a Kelly tem tatuado no cóccix!"

A Kelly, a propósito e a bem da verdade, era a mulher do Dinei, o dono da casa. E os últimos OVIs (Objetos Voadores Identificáveis) a sobrevoarem o recinto foram um espeto de costela minga pegando fogo e seis caixas de CD do Zezé Di Camargo e Luciano, que acabaram no meio das brasas, junto com a leiteira de alumínio.

Quando os ânimos pareciam estar mais calmos, na delegacia, bastou o delegado oferecer a palavra a quem quisesse explicar o motivo da baderna para recomeçar o festival de tabefes. O Valdoir, ainda babando nos cantos da boca, achou por bem ratificar sua posição anterior e iniciou um abalizado discurso contra a hipocrisia humana, retornando assim ao motivo da cizânia: o tal dragãozinho da Kelly - que, a rigor, era só o Dinei quem devia conhecer e dar fé sobre a sua existência e estratégica localização.

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