A Lucy estava virada numa fera. Tudo porque encontrou dentro de um livro, escondido atrás do motor da banheira de hidromassagem, uma foto do marido abraçado numa quase-loira.Quando o Volnei chegou em casa, o barraco estava armado, naturalmente:
"Se eu contar, você não vai acreditar", disse ele, coçando o nariz com o mindinho.
"Ah, não se preocupe! Pode contar que eu acredito."
"Não, você não só vai duvidar, como ainda vai tirar sarro da minha cara."
"Não se preocupe, querido! Nunca estive tão disposta a acreditar em tudo o que você diz. Conta, vamos."
"Não conto, você não vai acreditar! Nem adianta tentar."
"Conta, porra!", gritou ela, passando a mão num vaso de flores que estava em cima da mesa.
"É a Luana Piovani, pronto!", revelou ele, tentando sair do raio de ação dela e da possibilidade de virar um alvo muito fácil. "Foi naquela viagem a Nova York..."
A Lucy devolveu o vaso à mesa e não conteve a gargalhada:
"Só falta você dizer que andava pela Quinta Avenida, encontrou a Luana Piovani e ela pediu pra tirar uma foto ao seu lado! Estou certa, querido!?"
"Não, não foi nada disso", respondeu o Volnei, soltando um suspiro pela boca. "Nós tínhamos ido ver o Fantasma da Ópera e resolvemos jantar... Aí, conversa vai, conversa vem..."
A Lucy ria, debochada:
"E quem pagou a conta? Me diga! Quem pagou a conta?"
"Ela", respondeu o Volnei, sério.
A Lucy teve um acesso de riso:
"Só falta você dizer que teve um caso com a Luana Piovani!"
"Tá vendo? Eu sabia que você não ia acreditar!"
"E não vou acreditar mesmo! Aliás, pega essa tua fotomontagem de computador e vai dormir, vai! Some daqui, antes que eu perca a paciência com essa tua gabolice de malandro de quermesse, vai!"
"E tem mais, Cy", reiterou o Volnei, sempre sério. "Eu só não fiquei com ela porque te amo, tá sabendo? Ela me ofereceu casa, comida, roupa lavada e uma ajuda de custo a título de lazer e cultura."
A Lucy deu um grito de desprezo e o empurrou para o quarto:
"Vai dormir, traste, antes que eu perca a paciência contigo e com essa tua loira de computador. Vai, vai! Some daqui!"
O Volnei obedeceu, claro. Antes de se tapar de cobertor pra passar o tremor das pernas ainda sussurrou, lá com os seu botões, baixinho pra ninguém ouvir:
- Obrigado, Luana Piovani!
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