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   TAILOR DINIZ
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A Babi e a cerveja preta

Sexta, 31 de agosto de 2001


Toda sexta-feira, ao final da tarde, o Valdinho e o Zecão se reuniam no Café do Arlindo, para falar dos seus maiores ídolos: Marcel Proust e James Joyce.


Proust foi um escritor que utilizava cerca de 30 páginas para explicar como um doente se vira na cama. E Joyce, o charme é não entendê-lo, sob o argumento de que se trata de um autor completo, para ser saboreado eternamente, a cada nova descoberta.


O Valdinho e o Zecão, enquanto falavam de seus ídolos, bebiam Guinness, a cerveja preferida de Joyce, e comiam queijo Camembert, em honra à França de Proust.


Um acordo de gente civilizada, bem se percebe.


Isso até o momento em que a Babi, uma balconista da butique em frente, encerrava o expediente e passava por eles, garbosa, quase roçando o joelho na orelha do Valdinho. A primeira grande questão entre o proustiano Valdinho e o joyceano Zecão era identificar a marca daquele cheiro que pairava no ar pelo resto da noite, após a sua trepidante passagem.


“L’Insolence...”, dizia o fiel Valdinho, esmerando-se na pronúncia.


“Sabonete Phebo”, arriscava o Zecão, numa clara referência à assertiva de que gosto não se discute.


“Tenra como uma Madeleine que se dissolve na boca!”, exaltava o Valdinho.


“Depois dela, se esgotaram todas as possibilidades de criação”, insistia o não menos fiel Zecão.


A seguir, discutiam um plano para homenageá-la à altura de sua beleza e charme. O Valdinho sonhava com uma grande caixa cheia de gesso em pó, onde a Babi sentaria solenemente em cima, ao som da Quinta Sinfonia de Beethoven, para que fosse tirado o molde do seu bumbum, visando a uma futura escultura em bronze, que seria colocada, como monumento principal, à entrada da galeria.


Isso tudo até o dia em que a Babi fechou o butique e, sem a menor cerimônia, puxou uma cadeira e se acomodou, entre eles.


Tão logo pousou na cadeira aquilo que o Valdinho tencionava eternizar em bronze, pediu licença para uma pergunta:


“Vocês estão amamentando?”


Diante do vacilo dos dois, ela apanhou a latinha de Guinness de cima da mesa e acrescentou, melosa e sensual:


“Tomando Malzibier desse jeito, toda a semana...”


O Zecão abriu a boca para baixar o nível da conversa e dizer que sim, eles realmente estavam amamentando, e ela, se quisesse, poderia...


Mas o Valdinho, sempre mantendo a calma, saiu em defesa da classe:


“Cerveja preta baixa o colesterol, querida...”, disse, cheio de paciência. “Mas e você, vai beber o quê, ma petit fleur?


E se jogou nos braços dela antes que o Zecão trocasse os pés pelas mãos e botasse tudo a perder.

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