Quando o Jorjão entrou em casa com aquele boneco embaixo do braço e se trancou no quarto por uma tarde e uma noite, a dona Mirtes, mãe do Jorjão, não teve dúvidas: o filho ia aprontar mais uma. Ficou mais certa ainda, quando espiou pelo buraco da fechadura e viu o Jorjão em frente ao espelho, com o tal boneco no colo, tentando falar de boca fechada.No dia seguinte, cedo da manhã, ele apanhou o boneco e saiu para a rua. Pegou um ônibus, desembarcou no centro da cidade, escolheu um lugar apropriado, numa boca de galeria, e começou a "trabalhar". Conversa vai, conversa vem, o boneco sempre muito falante e esperto, e começou a juntar gente em volta do Jorjão.
"O Chulé, pessoal", disse ele, acariciando a cabeça do boneco com a mão, "também é adivinho! Não é mesmo, Chulé?"
O boneco fez que sim com a cabeça.
"Por favor, senhorita", continuou o Jorjão, escolhendo uma moça entre as pessoas que assistiam à apresentação. "Dê um passo a frente, por favor".
A moça vacilou um pouco, a cara de encabulada, depois atendeu ao pedido do Jorjão.
"Como é o seu nome, por favor?"
"Camila".
"Chulé, então me diga: de que cor é o sutiã da Camilinha?"
"Azul com rendas brancas entrelaçadas de fita mimosa", respondeu o boneco, sem vacilar.
"A senhorita se importaria de dizer ao distinto público se o Chulé está certo?", perguntou o Jorjão.
"Sim, está certo!", concordou a Camilinha, um jeito de contrariada.
"A senhorita Camilinha se importaria de tirar a blusa para provar que o Chulé está certo?"
Ela pensou um pouco, depois sacou a blusa. Foi um espanto geral. O Chulé estava certo.
"Chulé, agora diga, por favor: de que cor é a calcinha da moça?"
"Verde-papagaio!"
A Camilinha relutou um pouco, mas diante dos gritos de "tira!, tira!", baixou a calça e foi um espanto geral. O Chulé estava certo!
A seguir, por conta própria, o Chulé revelou que a moça tinha um ursinho panda tatuado no bumbum. Quando ela concordava em mostrar o tal ursinho, depois de mais uma sessão de "tira!, tira!", o Jorjão interveio, pegando um chapéu:
"Vocês não acham que, antes da revelação final, o Chulé não merece uma módica recompensa financeira, gente?"
Foi aí que chegou a polícia e acabou com a festa do Chulé. Enquanto algemavam o Jorjão e a sua partner Camilinha, um policial perguntou ao boneco, ainda no colo do dono, se ele saberia adivinhar a cor do camburão que os esperava lá fora.
"Dessa eu tô fora, meu!"
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