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   TAILOR DINIZ
tailordiniz@terra.com.br

O Nado e o roubo de galinhas

Terça, 25 de setembro de 2001


O Nado se espreguiçou longamente diante do espelho e sacou a camisa do pijama. A Rafinha, que estava atrás, soltou um grito de espanto. Ele se virou, assustado.

“O que é isso nas tuas costas, Nado?”, perguntou ela, quase aos gritos.

“Como assim?”, reagiu ele, franzindo a testa.

“Esses arranhões nas tuas costas, Nado!”

Não dava para dizer que o Nado tenha acusado o golpe. O certo é que enfiou a camisa do pijama de volta rapidamente e se fez de desentendido.

“Não tô entendendo, Rafinha!”

“Eu é que não tô entendendo, Nado!”

Quando ela quis se aproximar, pelas costas, para olhar os arranhões, o Nado se esquivou.

“Ah, claro, claro!”, disse ele, rindo, a cara de quem acabou de descobrir a pólvora. “Já sei, isso é uma cicatriz de juventude.”

“Nado!?”, insistiu ela, tentando lhe erguer a camisa.

“Foi nos tempos do ginásio, lá no interior! Todos os fins de semana íamos roubar galinhas pra fazer festa. Um dia o dono das galinhas apareceu no galinheiro, armado de revólver, dedo no gatilho, já pronto pra atirar! Saímos correndo, desesperados, e me enrosquei numa cerca de arame farpado...”

“Esses arranhões são recentes, Nado! Nem cicatrizaram ainda!”

“É porque o tempo tá pra chuva, Rafinha!”, explicou ele, terminando de abotoar, sem perder tempo, a camisa do pijama. “Empipoca tudo! Fica quase em carne viva!”

A Rafinha ouviu aquilo e se jogou na cama, inconsolável. Desandou a chorar e não parava mais. Um choro convulsivo, triste, sem fim. O Nado já estava quase jogando a toalha, ela precisava entender, ia pedir perdão, dizer que a carne é fraca, que foi um momento de fraqueza, tudo, quando ela conseguiu parar. Olhou bem para ele, magoada, e desabafou:

“E eu casada com um ladrão de galinhas, Nado!?”

O Nado, num primeiro momento, achou que era brincadeira da Rafinha. Mas, antes de enfiar novamente o rosto no travesseiro para continuar a choradeira, ela fez uma última exigência:

- Quero que você prometa que isso vai ficar só entre nós, Nado!

Ele prometeu, de joelhos, que ninguém mais, além dela, haveria de tomar conhecimento sobre a existência dessa mancha indelével nas suas costas e no seu passado.

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