O Joni nunca ia imaginar que por trás daquele gesto de aparente bondade houvesse uma dose cavalar do sórdido veneno da traição.Todas as tardes, por volta das 16h, o seu Pereira dava uma passada no final da linha do ônibus do qual o Joni era motorista, perguntava sobre as novidades, sobre o trânsito, e lhe dava um cigarro para fumar enquanto esperava a saída. Antes de o ônibus partir, o seu Pereira ainda oferecia ao amigo duas balas de banana, que ele sempre carregava no bolso.
"Cuidado com o trânsito, Joni!", ainda dizia o cretino, antes de o ônibus arrancar.
Ato contínuo, o seu Pereira corria para a casa da Nitinha, a mulher do Joni, onde os dois compartilhavam tórridos 68 minutos de amor - o tempo médio que demorava o ônibus para ir ao centro da cidade e voltar.
Até que, certo dia, assim que dobrou a esquina, o Joni foi fechado por um outro ônibus lotado e emborcou dentro de um valão. Ninguém se machucou, mas, por garantia, o Joni resolveu passar em casa para, ele mesmo, dizer à Nitinha que estava tudo bem. Foi assim que flagrou os dois, como bem se podia imaginar.
"Não é nada disso que tu estás (seu Pereira era bacharel em Letras) pensando, Joni!"
"Claro, seu Pereira", disse o Joni, na maior calma. "Por isso mesmo eu gostaria de saber o que o senhor está fazendo pelado na minha cama, com a minha mulher".
"Eis a questão, Joni!", reiterou o seu Pereira, que também era versado em Shakespeare.
Então o Joni disse que a questão era simples. Bastava ele juntar os papéis de balas de banana esparramados pelo chão que estava tudo resolvido. Assim que o seu Pereira se abaixou, porém, já recebeu a primeira lanhada de cinto no traseiro nu.
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