"Não tô entendendo!", disse a Kika, agitada, o controle
remoto na mão, zapeando entre um canal e outro da tevê a cabo.A Fabi, que estava ao lado, quis saber o que a Kika não estava entendendo e ela respondeu. Mas antes de abrir a alma à amiga sobre a questão que a intrigava, a Kika soltou a cabeça até quase os joelhos, deixou que seus longos cabelos loiros caíssem todos para a frente e,
ato contínuo, num gesto tão brusco quanto pretensamente sensual, jogou-os todos para trás, ficando novamente ereta sobre a cadeira.
"Essa história de mensagem cifrada...", respondeu, enquanto enfiava os dedos na longa cabeleira caída sobre os ombros.
"Você não sabe o que é uma mensagem cifrada, Kika?", perguntou a Fabi, surpresa, mas querendo ajudá-la.
"Eu pensei que sabia, mas agora acho que não..."
"Agora sou eu que não tô entendendo, Kika!"
A Kika ajeitou novamente os cabelos, jogou-os para um lado depois para o outro, e continuou:
"O Bush não quer que se divulgue declarações do Bin Laden porque elas podem conter mensagens cifradas para os seus comparsas atacarem os Estados Unidos, não é isso?"
"Sim", respondeu a Fabi ainda sem entender aonde a Kika queria chegar com aquele papo.
"Então escuta esta declaração do porta-voz do Bin Laden que gerou a reação do Bush..."
A Kika apanhou um jornal de cima da mesa e leu:
"A jihad é um dever de cada muçulmano, e há milhares de jovens esperando para morrer. Temos de destruir a América..."
Jogou novamente os cabelos para frente, massageando-os com os dedos, depois virou o rosto para a amiga.
"Tu achas que isso daí é uma mensagem cifrada, Fabi?
"Não", respondeu a Fabi, depois de pensar um pouco.
"Pois é...", continuou a Kika, sempre alisando os longos cabelos loiros. "Não tô mesmo entendendo esse tal de Bush..."
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