O Cardosinho telefonou para a mulher pediu que ela não o esperasse, pois só voltaria para casa no dia seguinte, se tudo corresse bem. Antes que ela pudesse reagir como reagiria qualquer mulher ao ser informada pelo marido que não ia dormir em casa, o Cardosinho se apressou em explicar o acontecido.Àquela tarde chegara à empresa onde ele trabalhava um envelope com pó branco dentro e ele e seus colegas teriam que ficar isolados até sair o resultado dos exames. Mas a Gina, que já andava desconfiada do marido e da sua melhor amiga, não engoliu a história.
Telefonou imediatamente para a Ro e a convidou para sair. A outra alegou que estava indisposta, TPM, essas coisas, e agradeceu o convite. Então a Gina disse que, se ela mudasse de idéia, poderia encontrá-la num bar da pesada que acabara de conhecer, onde até a meia noite tudo podia acontecer e, depois da meia noite, tudo realmente acontecia!
O Cardosinho, que inventara a história do pó branco para ter uma noite inteira livre com a Ro, a melhor amiga da Gina, ouviu a conversa da extensão do telefone e surtou na hora. Como também conhecia o tal bar, pegou o carro e saiu, cantando pneu.
Escolheu uma mesa bem escondida e esperou. Uma hora, duas, três, o bar estava quase fechando e nada da Gina aparecer. Telefonou para casa e ela atendeu no primeiro toque, a voz um pouco ofegante:
“E daí, amor?”, perguntou ela. “Já saiu o resultado do exame?”
“Não”, respondeu ele, intrigado.
“Então só reapareça aqui quando sair o resultado. Com o Bin Laden não se brinca, certo?”
“Gina... Você não ia?”, ainda quis falar o Cardosinho.
“Carbúnculo é doença grave e pode matar em uma semana, querido! Tchau, beijos!”
O Cardosinho não se convenceu e voltou para casa. Quando abiu a porta e entrou, viu a Gina no sofá, aos beijos e abraços com um sujeito barbudo, a cara de poucos amigos.
“A coisa ficou preta, amor!”. disse ela. “É terrorismo puro! Você recebeu um envelope com pó branco e eu um talibã em carne e osso...”
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