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   TAILOR DINIZ
tailordiniz@terra.com.br

O seu Bio e o bicho bom

Sexta, 26 de outubro de 2001


O seu Bio era tido como um homem sério. Às vezes sério até demais, diziam seus colegas de repartição sempre que ele se manifestava sobre certos assuntos do momento, como o badalado namoro entre a Hebe Camargo e o megaempresário da noite de Las Vegas, Ciro Batelli.

O máximo que se permitia o seu Bio como divertimento era ir eventualmente ao shopping, aos sábados à tarde, caminhar um pouco e apreciar o movimento na praça de alimentação. Naquele dia, o seu Bio não via a hora de chegar em casa para tomar um copo de leite com sucrilhos e ouvir a sua mais recente aquisição: um CD da Bíblia interpretada por Cid Moreira.

Foi quando passou por ele uma mulher que teria deixado o seu Bio batendo cabeça nas paredes o resto do dia não fosse o estranho fato que se sucedeu logo após a sua exuberante passagem, quase esbarrando nele.

O seu Bio não sabe explicar até hoje, só admite que apenas duas palavras lhe saíram da boca naquele exato momento, mas sem que ele jamais premeditasse dizê-las:

“Bicho booom!”

A ninfa se virou e o seu Bio afrouxou as pernas. Era a mulher do Cingapura, professor de jiu-jitsu, caratê kyokushin e tai-chi-chuan numa academia do centro da cidade, que vinha a ser também o patrão da mulher do seu Bio numa firma especializada em importações de relógios, rádios, uísque e calças Fiorucci do Paraguai.

Reconhecimento feito, a mulher, sempre com cara de poucos amigos, ordenou que o seu Bio a seguisse imediatamente. Mostrou uma arma que tinha na bolsa e o advertiu de que qualquer movimento suspeito seria motivo para ela perder a cabeça, na hora.

A seguir vendou os olhos do seu Bio, meteu-o no porta-malas do carro e saiu. O pobre do seu Bio, tremendo muito e quase chorando de arrependimento, imaginou mil coisas, inclusive que ia morrer ou, na melhor das hipóteses, que seria castrado com um único e certeiro golpe de navalha pelo malvado do Cingapura.

Depois de circular meia hora pela cidade, em alta velocidade, o seu Bio percebeu que o carro havia parado. Em seguida ouviu o barulho de uma porta sendo aberta e depois fechada com uma batida forte, como quem está com raiva, com muita raiva, pensou o seu Bio.

O porta-malas do carro foi aberto e o seu Bio sentiu que alguém o retirava de dentro, segurando-o pelas ombreiras do paletó. Depois empurrou-o até um elevador, que subiu alguns andares.

Saíram às presas do elevador, como para não serem vistos, imaginou o seu Bio, no seu justificável desespero.

Uma porta foi aberta e eles entraram.

Aí a pessoa que conduzia o seu Bio retirou a venda dos olhos dele e ele pode ver, em todo o seu esplendor, uma cama redonda com lençóis de cetim vermelho e imensos espelhos nas paredes.

Então a mulher do Cingapura, que era quem o conduzia até ali, agarrou o seu Bio pela gravata amarela e puxou-o com força, sem qualquer indício de que poderia estar brincando:

“Agora você vai ver quem é bicho bom, seu coroa safado!”

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