Quando chegou em casa o Didico logo percebeu que o clima estava pesado para o seu lado. Abriu a porta e viu a mulher e a sogra, uma de frente para a outra, sentadas junto à mesa de jantar, como se estivem apenas esperando por ele para darem início à selvageria."Te senta aí!", disse a sogra, apontando uma cadeira com o queixo.
Foi então que o Didico percebeu que sobre a mesa havia um gravador, pronto para ser ligado.
"Quero ver como é que você vai explicar essa pouca vergonha que tem aí gravada", acrescentou a sogra, mirando o Didico direto dentro do olho.
"Nunca imaginei que você fosse tão devasso, Didico!", reclamou a Nany, quase chorando.
"Porco! Bagaceira e nojento, isso sim!", corrigiu a sogra, ligando o gravador e se levantando ao mesmo tempo. "Eu me nego a ouvir outra vez essa podridão".
"Eu também", disse a Nany, acompanhando a mãe em direção ao quarto.
De parte do Didico, a bem da verdade, só havia uma pequena dúvida: se era um-sete-um, atentado ao pudor ou as duas coisas. Mas casualmente naquele dia ele tinha andado pelo centro da cidade, onde comprara uma fita do grupo de folclore andino que ali se apresentava, e teve uma idéia. Cuidando-se para não fazer barulho, trocou a fita do gravador e deixou rodar.
Tocou El condor Passa, Para Vigo me Voy e na metade de Carnavalito, as duas, a mulher e a sogra, reapareceram diante dele, querendo saber o que estáva acontecendo.
"Não tô entendendo isso daí!", reclamou o Didico, na maior cara de pau. "Essa onda toda só por causa do Carnavalito, gente!"
Então a sogra do Didico botou as mãos na cintura e soltou um grande suspiro:
"Carnavalito... Não fosse a tua pouca vergonha, Didico, isso até que daria uma boa piada... Agora te manda! Some da nossa frente, vai!"
"Não tô entendendo", ainda repetiu o Didico, saindo de fininho para a rua, com a fita original no bolso.
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