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   TAILOR DINIZ
tailordiniz@terra.com.br

O taxista e a mulher do amigo

Sexta, 30 de novembro de 2001


Assim que deu a partida, o motorista olhou para o passageiro, pelo retrovisor, e pediu desculpas, estava meio distante, preocupado com um amigo do peito que passava por sérias dificuldades.

"O meu amigo vinha desconfiado há tempos de que a sua mulher estava lhe escondendo algo", explicou o motorista. "E não deu outra, meu jovem. Estava mesmo, a cretina! Mas não foi por falta de aviso. Se tivesse dado uma surra logo na primeira aprontada, hoje não estaria na merda que está... Tem que botar respeito na aldeia, meu amigo. Mulher não precisa saber porque está apanhando, entende?"

O motorista olhava o passageiro pelo retrovisor:

"Se fosse uma traição comum, ainda dava pra suportar. Mas não era. O senhor, de ouvir falar, pelo menos, deve ter idéia do que seja uma traição conjugal, não é mesmo?"

"Sim, imagino".

"Pois era muito pior!"

Nessa altura o motorista fez uma grande pausa. Quando percebeu a ansiedade do outro, continuou, intercalando olhadas no retrovisor e no trânsito:

"Desconfiado de tudo, o meu amigo inventou uma viagem de última hora, arrumou as malas e se despediu da mulher, como se nada estivesse acontecendo".

Mais uma pausa, um pouco menor que a anterior.

"Saiu dali e se escondeu na casa do Zé da Bola, que morava em frente, e ficou cuidando o movimento da casa através do vão de duas tabuinhas empenadas da veneziana".

O motorista seguia o fluxo, veloz, costurando pelos dois lados da rua.

"Não foi preciso esperar nem meia hora, meu jovem".

Nova pausa, desta vez para esgoelar um sinal amarelo que acabava de dar lugar ao vermelho.

"O senhor não pode imaginar a tragédia que esperava o meu amigo, em sua própria casa, casa que ele construiu tijolo por tijolo, telha por telha, com o suor do seu próprio rosto, dando duro dia e noite, sem domingo, sem feriado, sem nada, o coitado".

Nesse altura do relato, o motorista estacionou o carro junto à calçada e, com cara de poucos amigos, apontou para o taxímetro:

"Pronto, chegamos!"

"Sim, mas e o fim da história? E a mulher do seu amigo...?", quis saber o passageiro.

"Esse é o ônus da corrida curta, meu jovem... E se tiver o dinheiro trocado, eu agradeço".

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