O dr. Ediní andava de saco cheio com a amante. Ou melhor, de saco cheio com alguns detalhes do seu cotidiano com a Patynha. Toda a semana ele tinha que sair às pressas do escritório para pagar uma conta dela nas butiques da cidade.Num dia era um vestido, no outro uma calça, um par de sapatos, uma bolsa, enfim, a Patynha estava sempre comprando alguma roupa nova com o intuito, segundo ela, de agradar o dr. Ediní.
Compras feitas, ela dava um telefonema para o escritório e lá corria ele pagar a conta. Quando o dr. Ediní fazia uma cara de contrariado, a Patynha dizia, dengosa, que ele estava chorando de barriga cheira. Ela fazia esse sacrifício, de estar sempre comprando uma roupa nova, com a melhor das intenções. Queria estar bonita e fashion para gatinho dela.
"Mas isso me rouba tempo, Patynha!", reclamava o dr. Ediní, quando se encontrava com ela, depois de uma dessas saídas às pressas para assinar um cheque.
Até que um dia o dr. Ediní teve uma idéia para se livrar desse transtorno: deu a Patynha um cartão de crédito. Assim ele não precisava sair do escritório todas as semanas para pagar as contas que ela fazia nos shoppings da cidade.
"Adeus incomodação!", exultava.
Havia terminado aquela encheção de saco de deixar um cliente esperando para sair correndo pagar uma conta, a Patynha não só andava fashion como se sentia fashion - e isso é muito importante na relação homem/amante. O dr. Ediní se sentia no paraíso. E a Patynha também, justiça seja feita.
Até o dia em que apareceu a primeira fatura do cartão para ele pagar. Mas o dr.Ediní ficou na dele, afinal, pensou lá com seus botões:
"Tudo tem seu preço, inclusive o sossego..."
Ledo engano. No mês seguinte, a Patynha redobrou a atenção com a sua necessidade de estar sempre fashion para o gatinho dela. Até não foi por causa do ar condicionado, do forno de microondas e do DVD que o dr. Ediní começou a perder novamente o sossego. O que o intrigou foi um terno Armani, uma dúzia de cuecas de grife e uma prancha de surf que constavam da fatura do cartão da Patynha.
Sobre o terno e as cuecas ela disse que era um presente para o seu pai que estava de aniversário. Sobre a prancha a explicação foi meio esfarrapada. Mas o dr. Ediní não se fixou muito nos detalhes. Ia esperar a próxima fatura para tomar uma decisão. O que ele não queria mesmo era perder o seu "bichinho", como ela a chamava na intimidade.
"Isso não!", repetia ele em voz alta, no escritório, mas com a desconfortável sensação de que estava sendo passado para trás pela Patynha.
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