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Isso, na verdade, era uma desculpa que o cretino do Maneca dava em casa, para a mulher e a sogra, por sinal muito religiosa, que até apoiava o genro, tanto no campo espiritual como no material. "Promessa não se discute", dizia ela, enquanto ajudava o Maneca a ajustar o espartilho, antes de ele sair para a rua. A Bia, mulher do Maneca, nunca esteve muito convencida daquela história, mas a sogra, incontinenti, sempre saía em defesa do genro: "Ora, Maria Beatriz! E alguém deste mundo seria capaz de dar alguma coisa pelo Maneca vestido de mulher?" Isso até o Carnaval deste ano, quando ele saiu para brincar e nunca mais voltou para casa. Deram parte na polícia, anunciaram no jornal e nada. Até que na véspera do último Natal o Maneca apareceu em casa, uma sacola na mão com uma fantasia dentro, muito bem disposto e alto astral, como se nada tivesse acontecido. Com uma espantosa naturalidade foi direto à cozinha, abriu a geladeira e voltou em seguida, esbravejando: "Posso saber por que a minha ceva não tá gelando?" A Bia e a mãe olharam uma para a outra, perplexas, e ficaram mudas por alguns segundos, sem saber como reagir à cara de pau do Maneca. Mas quando a Bia fez menção de abrir a boca, a mãe interrompeu. Foi até o quarto de casal e gritou: "Tonhão! Esclarece aqui pro Maneca porque a ceva dele ainda não tá gelando..." Quando o Tonhão apareceu na porta, com jeito de armário mal fechado, o Maneca decidiu que o melhor era entregar os pontos e não perder tempo. Pegou a sacola de cima do sofá e foi saindo, de fininho, sem olhar para trás. "Não tô entendéindo!" - ainda disse, dando no pé antes que o Tonhão resolvesse lhe explicar, pelas vias de fato, porque a ceva dele ainda não estava na geladeira.
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