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    EMILIANO URBIM
emiliano.urbim@terra.com.br

Terrorismo Poético

Segunda, 04 de março de 2002, 11h08



Há feitos na vida dos quais o indivíduo tem de se orgulhar. Não falo de mulheres, fama, dinheiro, Oscar, Nobel, gols: isso qualquer paspalho consegue. Falo de atos únicos, históricos, imortais. Pois saibam, leitores, que nas áginas amareladas de minha biografia encontra-se um capítulo que me envaidece sobremaneira.

Corria o mês de setembro de 1994. Setembro, mês em desabrocha a primavera, o ar se enche com o olor das flores, e estas de cor adornar as colinas... Bem, adiante. Todo final de setembro era realizado o Baile da Primavera a Sociedade Esportiva Leopoldina Juvenil. O Juvenil, ali na Félix com a Marquês do Herval. Moinhos de Vento, Porto Alegre. Brasil. Ah, sabe do que mais, pegue um mapa e não me encha o saco.

Pois voltemos ao baile. Lá estávamos nós três, eu, André e Alessandro na pista de dança, bailando ao som de Roxette, Ace of Base e outras sensações musicais de então. Nós, púberbes e imberbes, contávamos então 15 anos e considerávamos as gurias de 12, 13 e 14 presas fáceis. Jamais resistiriam ao nosso arsenal: gel, camisas xadrez, calças brancas e buços ralos sobre o lábio - éramos homens.

Os sonhos de conquista não poderiam estar mais distante da realidade. As gurias de 13, assim como as de 7, 11, 17, 19, 23, 29, 31... (números primos, viste?), não querem nada com nada, e naquela noite queriam menos ainda conosco. Vagamos macambúzios e taciturnos pelos neoclássicos salões e escadarias da vetusta instituição aristocrata, lamentando nosso infortúnio. Creio em dado instante ter fitado os céus e clamado "sou um escravo dos deuses! um joguete do destino!", mas minha memória me trai.

Tudo se encaminhava para uma das jornadas mais encalacrantes de minha vida. Mas lhes disse anteriormente que minha trajetória contava com um evento singular, inigualável, e é este que agora vos transmito.

Descendo a ladeira rumo a Marquês do Pombal (o mapa! o mapa!) fez-se a mágica. De chofre, surge diante dos meus olhos a miraculosa visão, retangular, alva e anil: a placa da esquina marcando o encontro das duas ruas. Sem pressa e sem pausa, passei a trabalhar sobre a placa de madeira com meu canivete. André e Alessandro observavam curiosos, sem entender patavinas.

Ao cabo de uns dez minutos, concluída a obra prima: havia raspado o "nha" de "Félix da Cunha". Para meu regozijo e folgança, a prefeitura levou meses para reparar a placa. Saí daquela esquina para entrar para história. História que aqui interrompo, pois não gosto que me leiam quando estou a chorar.

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