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    EMILIANO URBIM
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Ser só

Segunda, 11 de março de 2002, 14h40



Domingo não deu.

Dormi mal, esfriou, meu time perdeu, o ralo entupiu, manchei uma camisa (talvez para sempre), um xis não me fez bem, essas pesquisas eleitorais inacreditáveis... Foi o que bastou para que meu organismo iniciasse a produção de hormônios que acentuam a minha pré-disposição natural à carência. Reencontrei velhas fotos, reli todo o tipo de coisa escrita por todo o tipo de ex, recordei e vivi. Fiasco sem fim.

Aí corri pro telefone. Eu não aprendo mesmo.

"Oi, Angela, tudo bom? É o Emiliano. Tempão que a gente não se fala, né? Eu liguei por ligar, saber como tu tava, se... o que tem a última vez que a gente se viu? Eu disse o quê? Ah, mas eu falei por falar, não era gorda no sentido de gorda... Não, nem trouxa no sentido de trouxa. Acho que eu me expressei mal na ocasião. Que exagero, a gente não pode levar tudo ao pé da letra, até porquê... Alô? Alô?"

"Carol! E aí? Tá na praia? Bah, que pena, porque eu ia te convidar para ir num cinema, num bar, fazer alguma coisa. Mas quando é que tu volta? Tem que desligar? Túnel? Carol, na praia não tem túnel!"

"A Lu está? Mmm, sei. Tu é irmã ela? Ah, eu lembro de ti. Melissa, né? Sou o Emiliano, eu fui colega dela. Ela falou isso, é? Ah, mas não deve ter sido de mim que ela estava falando, na faculdade tinha muitos Emilianos, é um nome comum... Galinha? Não, queísso, magina. Além do mais, Melissa, a gente tem que ter a opinião da gente, não pode se deixar influenciar. Agora só porque a outra falou... Alô? Alô?"

"Pois é, Flávia, eu nem lembro direito porque a gente parou de se ver, mas eu acho que a gente tem essa sintonia, né, essa química. Muita coisa em comum. Tu também acha? Legal. Ah... tu também tem asco de ex-namorado que liga no meio da noite querendo coisinha? Isso foi um fora?"

"Alô? Bê? Quanto tempo. Que que tu tem feito? Legal. Show. Ah, tu leu minha coluna no Terra, é? Gostou? Que bom... Pois é, eu te liguei para te convidar para... Diga. Daniel Galera? Achou lindo ele, é? Gatinho, assim, pegável. É... pois tu sabe que tanto eu não tenho o telefone dele como eu quero que tu ele tomem um surra de vara de marmelo, comam pele de pé, morram de dengue e depois morram de novo. É! Desaforo".

"Dani, dani, dani... É o Emiliano. Tá afim de sair, beber alguma coisa? Sem chance, nem morta, nem que paguem. Muito. Tá, e se não for o Emiliano?"

"Vicente? Tudo bom, cara? É o seguinte, tô te ligando pra pedir uma informação. A tua mãe, ela continua com aquele cara. Teu pai, isso. Tá firme a história, então. Bom qualquer coisa, me dá um toque, tá? Ah, meu que bobagem, deixa de ser careta".

Emiliano Urbim escreve às segundas-feiras no Popular

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