Com a palavra o acusado:"Sim, isso eu não nego. Realmente foram depositados três cheques em minha conta corrente, um de cinco, um de oito e outro de R$ 12 milhões. Sou um homem honrado e de palavra, e não tenho o hábito de negar a verdade. Mas vou esclarecer essa história de uma vez por todas: não imagino quem possa ter depositado esses três cheques em minha conta, muito menos sei o motivo que levou essa pessoa a fazê-lo. Estou empenhado em esclarecer os fatos tanto quanto vocês, em nome de minha honra e de minha dignidade pessoal.
"Eu não conheço nenhum Severino, não. Aliás, ainda que mal pergunte, que Severino!? As ligações telefônicas desse tal Severino para minha casa e para o meu escritório não têm nada a ver. O número do meu telefone está no catálogo e liga para mim quem quiser. Sobre as ligações do meu escritório para o número do Severino, eu não sei de nada. Em nenhum momento me consta que as tenha feito. Até porque, nem sei quem é esse tal Severino. Esse é um assunto que cabe ao contínuo esclarecer. Perguntem a ele.
"Se foi o Severino quem depositou os cheques em minha conta é um problema que vocês têm que esclarecer com ele. Afinal, se foi o Severino quem depositou é porque o dinheiro era dele. Isso é uma questão meramente de lógica. Portanto, eu não sei de nada. A minha secretária disse que eu conheço o Severino? Não. Está havendo uma pequena confusão. A Edileuza certa vez entrou na minha sala e disse que o Severino tinha depositado um cheque de cinco milhões de Reais em minha conta corrente e que era para mim repassar esse dinheiro às contas do Raimundinho, da Roselândia e do Vespaziano. E foi o que eu fiz. Vocês não comprovaram isso quando quebraram meu sigilo bancário? Pois então? Essa é a maior prova de que não estou mentindo, de que falo a verdade, não mais que a necessária e inexorável verdade.
"Quanto ao segundo depósito, procedi da mesma forma. Repassei-o ao Alarico, ao PJ e ao Damião, conforme o Severino mandou. O terceiro eu aceitei como pagamento por esse serviço, o que me parece muito justo. Mas daí a dizer que eu conheço o Severino já é demais. Quem disser que eu conheço o Severino mente. Mente descaradamente.
"Outra pantomima, patuscada que reputo grosseira e irresponsável, é dizer que eu faço parte de algum esquema. Esquema de quem, eu pergunto? Do Severino? Mas que Severino, gente!? Digam-me quem é essa criatura que eu também estou querendo conhecê-la! Como poderei eu fazer parte do Esquema do Severino, se nunca vi o Severino na minha frente, nem mais gordo, nem mais magro!? Só porque o carro que a minha mulher usa foi pago pelo Severino eu sou obrigado a saber quem ele é, poxa!? Mas que perseguição odiosa contra a minha pessoa, meu Deus! Diz a lógica que isso é um problema da minha mulher e do Severino, ora! Eu não sei de nada. É hora de dar um basta a essa perseguição odiosa! Chega de tanto sofrimento, chega de injustiças, chega de falatórios. Sou um homem de bem, gente! Não posso permitir esse linchamento moral contra a minha pessoa.
"E para finalizar, sobre essa história do carro eu estou tão surpreso e perplexo quanto vocês. Como é que uma pessoa que eu nem conheço pode ter dado um carro para minha mulher? Eis o questionamento que faço. Eu exijo uma explicação! Isso vocês terão que me esclarecer, doa a quem doer, custe o que custar. Que mania de ficarem me perguntando se eu conheço o Severino. Perguntem pra turma dele, pô!
"Como? Não ouvi direito a pergunta... Ah, sim! Se eu sei de quem são essas fotos e esse espartilho vermelho encontrados em minha gaveta? Claro que não! Não sei mesmo! Não tenho a menor idéia! Mas já estou imaginando o que vão dizer os inimigos da boa-fé! Que só pode ser da mulher do Severino! Assim não dá, sinceramente! Larguem do meu pé e parem de chafurdar na lama! Antes que eu perca a paciência e dê um basta nisso tudo, sem dó nem piedade. E tenho dito!"
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