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   TAILOR DINIZ
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O Lambari e a mulher-bandida

Sexta, 05 de abril de 2002


O Lambari chegou à delegacia e pediu “um particular” com o delegado. Assunto urgente. E tinha que ser só com o homem, pois a denúncia que o trazia ali era coisa, segundo suas próprias palavras, para afetar as estruturas do circo e arrebentar o suspensório do palhaço.

Depois de um prolongado chá de banco o delegado o atendeu, sem muita convicção, mas disposto a ouvi-lo. Afinal, pensou, num momento crítico como este em que vive a sociedade brasileira, com tráfico de drogas, crime organizado, corrupção por todos os cantos do país, às vezes de onde menos se espera é que pode sair alguma coisa.

"E então... que denúncia é essa, Lambari?", perguntou o delegado, a cara de poucos amigos.

O Lambari olhou para a porta, com jeito de assustado, depois se voltou para o delegado e disse, encostando a mão esquerda espalmada ao lado da boca, como para evitar que alguém, vindo da porta, pudesse ouvi-lo.

"Desconfio que, sem saber, me casei com uma mulher-bandida, doutor!"

O delegado se jogou para trás na cadeira giratória e não pôde evitar um longo suspiro.

"Mulher-bandida?"

"Sim, doutor!", continuou o Lambari se esquivando, um canto do olho na direção da porta. "Eu nunca havia desconfiado de nada. Mas agora, juntando todas as pontas do barbante umas com as outras, começo a desvendar a urdidura da trama, doutor".

"Mulher-bandida... urdidura da trama... Interessante. O que mais, Lambari?"

"Minha mulher, doutor, deu pra chegar em casa tarde da noite... O senhor percebe?"

"Sim, percebo".

"Parece que levou um banho de loja! Cada vestido, um mais lindo que o outro! E as jóias, então, o senhor precisa ver! Tudo de uma hora pra outra, doutor. Do salário dela que não é... ganha pouco mais que o mínimo".

"Você já perguntou a ela de onde vem tudo isso?"

"Sim!", respondeu o Lambari, levando a mão aberta novamente ao rosto para evitar que, além do delegado, alguém mais ouvisse o que ia dizer.

"Ela disse que é presente do seu Pereira, a cretina!"

"E quem é o seu Pereira?"

"O chefe dela na firma".

O delegado deu outro suspiro.

"E a troco de quê esses presentes, Lambari?"

"Isso é o que eu também me pergunto, doutor! A troco de quê? Pra mim é roubo! Mulher-bandida! Crime organizado, doutor! E pra despistar inventa essa história do seu Pereira".

"Tem sentido, Lambari... Tem sentido..."

"Mulher-bandida! O senhor não acha que eu devo abrir o olho, doutor?"

"Acho, Lambari... acho mesmo!", concordou o delegado, torcendo-se na cadeira giratória. "Agora vai, meu filho. E qualquer novidade me avise. Olho vivo e pé ligeiro, certo!?"

"Pode deixar, doutor!", disse o Lambari, esfregando as mãos.

"Mulher-bandida...", ainda sussurrou o delegado, o olhar desolado e melancólico, enquanto o Lambari se afastava, lépido e ciente de que fez a sua parte no combate ao crime organizado.

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