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   TAILOR DINIZ
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O Claudir e a Feijoada do Dentão

Sexta, 12 de abril de 2002


Quando chegaram os primeiros convidados, a tampa da panela trepidava mais que britadeira, em cima do fogão. As armas para preparar a guarnição da feijoada já estavam todas à espera sobre a pia da cozinha: limão, cachaça, açúcar, socador de pau e uma leiteira de alumínio.

À medida em que os comensais chagavam, o Dentão ia distribuindo as tarefas. Feitas as determinações iniciais, pôs a rodar um bolachão do The Fevers. Rose Garden, dava pra perceber, apesar da chiadeira medonha que se ouvia junto com a música. Depois atacou de Vandeca, Leno e Lilian, Gasparzinho, os Vips, Antônio Marcos, Agnaldo Timóteo e Cauby Peixoto.

Quando chegou a vez do tremendão Wanderley Cardoso, a leiteira de alumínio não tinha meio minuto sequer de sossego.

A Nercy, encarregada de abastecê-la, espremia o bagaço de limão no fundo do recipiente, entornava o caldo, lambia o socador de pau e preparava outra. Acontece que o Claudir não estava gostando nenhum pouco daquela história de lamber o socador e, em seguida, devolvê-lo direto pra leiteira.

Até que não se conteve e pediu pra Nercy parar, pois aquilo lhe parecia anti-higiênico demais para o seu gosto.

"Não sei aonde tu andou essa boca!", ainda disse, passando a leiteira de caipira adiante, sem beber.

Foi o estopim para que nada mais permanecesse como antes na Feijoada do Dentão.

A Nercy disse que o Claudir estava mesmo era cuspindo no prato que comeu, pois já levara muito beijo de língua trançada daquela boquinha que agora desprezava só porque estava perto de uma perua vagabunda. O Claudir revidou com outro impropério, tipo no meu tempo tu ainda não tinha caído na vida e desgraçado o nome da tua família, sua ordinária.

E aí ficou difícil saber quem se aplicava mais na arte do baixo calão. Principalmente a partir do momento em que sobrou também para os hábitos da Lurdes, a mulher do Claudir, e das outras damas presentes no recinto.

No auge do descontrole, quando seus bolachões começaram a circular feito disco voador de um canto ao outro do quintal, o Dentão tomou a única providência cabível naquele momento.

Para encurtar a história, os ânimos só serenaram quando a polícia apareceu e o delegado anunciou, sem cerimônia, que na frente da casa havia dois camburões estacionados:

"À guisa de transporte!", disse ele, com uma certa pompa.

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