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    DANIEL GALERA
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Estudante escreve biografia do homem mais idoso do mundo

Terça, 16 de abril de 2002, 14h29



Quando completou 121 anos de idade, Adamastor decidiu convidar um jovem escritor para escrever sua biografia. Interessado na história do homem mais idoso do país, um estudante de Letras ofereceu-se para a tarefa. Na primeira reunião, depois de tomar um café com Adamastor, o rapaz pediu ao velho que relatasse sua vida desde a infância.

Adamastor contou como foi sua criação numa chácara do interior do estado. Seu pai era um pequeno agricultor que cultivava morangas e domava cavalos. A mãe era uma dona-de-casa habilidosa e adorava tomar chimarrão e assistir às novelas da Globo. Quando não estava no colégio ou na missa, Adamastor comprava gibis e, depois de lê-los, trocava com os amigos, com quem também andava de bicicleta diariamente.

Aos 15 anos, mudou-se para a capital e morou na casa de um amigo de seu pai até formar-se no segundo grau. Antes de passar no vestibular para Administração, comprou em parcelas uma moto 125cc. Vivia andando de moto e tomando cerveja com os amigos. Precisando de dinheiro, pegou um emprego como motoboy. Conheceu Laura na faculdade e, depois de um ano e meio de namoro, tiveram uma filha. Adamastor se casou com Laura duas semanas após a formatura.

Depois de trabalhar mais alguns meses como motoboy, conseguiu financiamento para abrir sua própria microempresa de entregas e transporte. Aos pouquinhos, o negócio se estabilizou e Adamastor conseguia tirar um salário razoável. Mudou com Laura e a menina para um pequeno apartamento no bairro Menino Deus.

Adamastor nunca parou de andar de moto. Era seu hobby preferido. Nos fins de semana, ia para a praia ou para a serra na sua Yamaha, cuja manutenção ele fazia questão de realizar sozinho.

Com o passar dos anos, a filha de Adamastor, que se chamava Luciana, cresceu, formou-se em Relações Públicas e mudou com o namorado para Minas Gerais, onde administra uma pousada em uma das chapadas da região. Adamastor trabalhou como diretor da empresa de entregas e transportes até se aposentar. Aos quarenta anos teve um câncer de pele, mas tratou-se cedo e ficou tudo bem. Vendeu o apartamento e foi morar com Laura numa casa da zona sul, mais sossegada. Durante os cinqüenta anos seguintes, aproveitou para dormir bastante, ler livros como "Guerra e Paz" e "Grande Sertão: Veredas", e fazer algumas pequenas viagens para destinos como as Missões e Buenos Aires. Laura morreu dormindo aos 70 anos de idade, e desde então Adamastor simplesmente ia levando a vida, passeando no sol da manhã e mantendo relações sociais com os vizinhos.

Não tinha nenhum segredo para sua longevidade. Talvez fosse o café. Ou quem sabe os três cigarros Marlboro que fumava por dia.

Depois de meia dúzia de entrevistas, o estudante de Letras disse que estava satisfeito e foi pra casa analisar suas anotações e gravações sobre a vida de Adamastor. Uma semana depois, ligou para o velho e disse que não havia um fato sequer na sua centenária existência que merecesse um parágrafo de uma biografia. Adamastor ficou muito amargurado com as palavras do jovem e foi até a garagem chorar diante de sua velha Yamaha, de modelo ultrapassado, mas impecavelmente conservada, com lataria reluzente e óleo pingando das correias. Tinha vontade de ligar a máquina e deslizar os pneus pelas curvas asfaltadas da serra, mas há muitos anos já não tinha forças para pilotar a moto.

O jovem estudante morreu por overdose de drogas quinze dias depois, aos 23 anos, durante uma orgia homossexual gótica transmitida pela internet.

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