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    EMILIANO URBIM
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Rubens

Segunda, 13 de maio de 2002, 15h45



"Eles querem que eu deixe o outro passar. Pombas, mas deixaram eu liderar a corrida inteira, só para a três voltas do final me dizerem que eu tenho de deixar o tetra-campeão da cocada preta passar? Ah não, é sempre tudo no meu! Vou fazer de conta que não ouvi. Quer dizer... eu poderia fazer de conta que não ouvi a ordem, se não tivesse respondido. Mas não! Eu tinha de responder, tentar contra-argumentar. Energúmeno! Ah, sabe do que mais, dane-se a equipe, a cavalinho saltitante, eu não vou deixar ninguém passar, eu sou mais eu, eu posso mais, eu sou a pátria de balaclava, eu... eu assinei um contrato até dezembro de 2004 na quarta. Por que eu fui assinar um contrato até 2004 para trabalhar como guarda-costas? É só dinheiro o que importa? O vil metal? Ganância? Putz, quase rodei nessa curva, foco, foco. Sim, é só dinheiro. Isso aqui não é esporte, é um negócio, um anúncio de duas horas para o mundo inteiro de marcas de motores, pneus, combustíveis e quem mais entrar na roda. E pagam muito bem. Além do quê, às vezes é melhor ser o segundo. Dom Pedro 2º reinou mais que o 1º. Fevereiro é melhor que janeiro, tem Carnaval. O Império Contra-Ataca é melhor que Guerra nas Estrelas. O Poderoso Chefão 2 é melhor que o 1, disparado. Não, melhor não pensar em poderosos chefões. O Super-Homem 2 é melhor do que o 1. Melhor também não pensar em super-homens. Se bem que é uma música tão bonita... Quem dera, ó, mãe, ó mãe, quem dera... Poxa, justo no Dia das Mães, um domingo em que todo mundo vê TV para evitar ter de conversar com os parentes eles me fazem passar essa vergonha? Diabos, quase que eu vou para a brita. Foco, foco. Brita! Eu podia encostar o carro, alegar alguma pane em alguma coisa... mas aí os chefões iam saber. Por que eu fui responder a esse rádio!!?? Poderia me fazer de louco, poderia seguir andando mais rápido, bem mais rápido que o outro lá, vencer, tomar champanhe e dizer para eles que o rádio era uma porcaria. Poxa, tudo já estragou nesse carro, dessa vez seria o sistema de comunicação. Diria, na cara deles, ali, na latinha, que se eles quisessem que eu fosse humilhado, que arranjassem um rádio melhor. Humilhado. Ai, os jornais amanhã! Marmelada, falcatrua, palhaçada, engambelação, um dia para o esporte esquecer. Todos vão querer explicações. Eu devo explicações. Dever... dívida! Eu posso inventar uma dívida! Quando o repórter chegar para me perguntar como eu me sujeito a ser tratado dessa maneira, eu digo que tenho dívidas homéricas, bíblicas, vetero-testamentistas. Eu moro em Montecarlo, lá tem cassinos, eu fui ao cassino, como é de praxe tive muito azar e estou devendo horrores. Por isso preciso desse dinheiro desesperadamente. Ou ciganos armênios vão matar minha família. Imagine, ter de conviver com essa pressão, caro repórter? Estou nas últimas. Últimas curvas. Uma pra lá, uma pra cá, a reta, e ele já está ali, ocupando todo o meu retrovisor. Se bem que ele também não deve estar se sentindo muito bem com isso. O Super-Homem não deve ter prazer ganhar assim. Enfim, tarde demais, ordens são ordens. Isso, pode passar ao lado, me ultrapasse. Vamos! Me ultrapasse! A equipe mandou, imbecil recordista de vitórias estúpido! Ele está freando? Ah, não! Ele freia, eu ganho a corrida, e vou ser o pateta que quase entregou a vitória, não fosse o altruísmo e coragem de seu superior companheiro de equipe. Pois olha só: eu freio mais ainda! Ah, tá pensando o quê... que eu ia deixar de perder para que você aparecesse? Não, aqui ninguém é palhaço!"

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