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   TAILOR DINIZ
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O Joca e o Monstro do Valão

Quinta, 16 de maio de 2002


O Joca instituiu a quinta-feira como o Dia do Crime.

Seu horário normal de chegar em casa era sempre às 20h, mas na quinta ele voltava lá pela meia noite. Inventou para mulher que aquele era o dia de recuperar as entregas atrasadas e, portanto, precisava ficar na firma até às 23h.

Como a Tita nunca pedisse explicações, o Joca foi em frente.

Na verdade, o cretino tinha mesmo era um esquema com a Deja, com quem se encontrava todas as quintas à noite, num JK onde ela morava, no centro da cidade.

Ele chegava no apê da amante por volta das 19h, comia um torresminho com ovo de codorna, tomava seis cálices de licor de catuaba e até às 21h se deixava arder nas chamas do amor.

Mas o Joca tinha algumas manias.

Tirar uma soneca agarradinho na Deja era uma das quais ele não abria mão. Para não perder a hora, regulava o relógio para despertar às 22h45min.

Acontece que naquela noite, num momento de puro desatino, alguém bateu com o pé no despertador e o lado positivo da pilha se soltou. O resultado foi que o Joca só chegou em casa às 4h da madrugada, acossado por um compreensível temor, matutando as mil explicações que ia dar à mulher por causa da hora.

O bairro onde morava o Joca dormia tranqüilo quando ele desceu na parada no ônibus. Ele vinha aflito e quando dobrou a esquina mais próxima de casa, percebeu que as luzes do banheiro e do quarto estavam acesas.

A Tita devia estar uma fera.

Foi aí que ele se lembrou das reiteradas notícias dos jornais sobre um animal misterioso que vinha assombrando os moradores do bairro, talvez um jacaré ou uma grande cobra, não se sabia ao certo, e não perdeu tempo na execução do plano recém-bolado para enganar a mulher. Jogou-se num valão e correu para casa, com lama até o pescoço, tremendo de frio.

Meteu o pé na porta e gritou, os olhos arregalados de pavor:

"Acuda, amor! O Monstro do Valão me pegou!"

Para espanto dele, a Tita não demonstrou qualquer reação de surpresa.

Então o Joca notou que ela tinha uma toalha na mão e enxugava os cabelos molhados.

"Também fui atacada pelo monstro", disse ela, na maior calma. "E não reclama, que você já pegou o bicho cansado..."

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