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    EMILIANO URBIM
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Primeiro grau

Segunda, 27 de maio de 2002, 16h29



Os dois já estavam há três semanas naquela história de ele ir na casa dela, levar ela pro shopping, levar ela pra pracinha, levar ela no aeroporto ver os aviões subirem e descerem, levar ela no hipermercado para comer provinha de queijo e tomar provinha de vinho. Ela nunca levava ele em lugar nenhum.

Começaram a sair meio que por obrigação. Quase todo mundo na turma estava de casalzinho, por causa de um acampamento do colégio um mês e meio antes. Era um camping com um rio de correnteza, um dos guris havia subido nas pedras da margem e caído. Se machucou feio, o professor responsável pelos alunos foi levar o guri no pronto-socorro. Ficou de encarregada uma professora mais jovem que, louca para dar para um aluno repetente, liberou os guris nas barracas das gurias e vice-versa.

Rolou muito rouba-monte, dorminhoco - com rolha -, jogo do copo e jogo da verdade. No jogo da verdade, a primeira pergunta era sempre "de quem tu gosta", e com muitos se gostando formaram-se os casais. Ele e ela nem tinham ido no tal acampamento. Naquele fíndi ele tinha um casamento da família no interior, enquanto ela achava que o aluno repetente fosse ficar na cidade. Mas se deixaram afetar pela onda da turma, cheia de casais. E seguiam naquela de ele ir na casa dela e levar para tudo que é lugar, desde que voltassem cedo.

Um dia choveu granizo e às dez da manhã parecia noite. A escola inteirinha parou. As pedras que caíam do céu pareciam que iam furar o teto dos pavilhões de madeira. Os alunos, e depois os professores, correram para as janelas ver a chuva que se espatifava no chão. Ela queria ver e ia correr também, mas ele puxou-a pelo braço quando ela ia se levantar da cadeira. Ela voltou a sentar-se, ele levantou-se e sussurrou no seu ouvido: "vamo no banheiro, ninguém tá olhando".

Foram - ele levou ela pelo braço. Foram pro feminino, que era mais limpo. Entraram em um dos dois cubículos, o que trancava, ele chaveou a porta. Ela era uns 15cm mais baixa que ele, subiu no vaso sanitário para beijá-lo. Selinho sem vontade. Mas suficiente para que surgisse um volume na calça de abrigo dele. Ele perguntou se ela queria ver. Ela não ouviu, o granizo batia forte no vidro da basculante e o vento soprava alto.

"Vamos embora. Logo o recreio começa, vai vir gente.", ela gemeu. Ele agarrou a bunda dela, fez com que ela descesse do vaso, tentou beijá-la de língua, era virou o rosto. Beijando o pescoço dela, ele baixou as calças e esfregou as cuecas contra o jeans dela. Voltou a agarrar a bunda dela e fazia gemidos como os que havia ouvido o irmão mais velho fazer contando uma piada.

Ela não reagiu, mas quando ele pôs a mão por baixo do moleton dela, ela empurrou ele contra a porta. Ele deu com as paletas no trinco, doeu pra cacete. "Eu não gosto de ti mais", ela disse, braba e soluçando. Afastou-o de sua frente e saiu do banheiro. Ele passou a mão onde havia batido, viu que sangrava e passou duas folhas do papel higiênico rosa e áspero. Ainda com as calças arriadas, subiu em cima do vaso e pode ver pela janela ela caminhar em direção a sala de aula. Chorando. Não se falaram no recreio, não se falaram naquele dia, nem naquela semana, nem naquele mês.

Vieram as férias de julho, ela foi visitar os parentes no interior, ele ficou de boy no escritório onde a mãe fazia limpeza.

Se encontraram pouco antes do início do 3º bimestre, na casa do guri que tinha se quebrado no acampamento. Ele havia tirado a última tala e estava dando uma festa. No jogo da verdade, quando a garrafa de Nachtcatzwein comprada a R$ 1,97 parou de girar com o fundo virado pra ela e o ponta pra ele, ela lascou: "tu ainda é virgem?"

Ele passou o polegar e o indicador no buço, depois encarou ela: "Não, né. Tu sabe que não." Ela sorriu olhando para o chão, depois para o gato preto do rótulo do vinho, depois para ele: "Só pra ver o que tu ia responder."

Estão juntos até hoje. Pedindo ele mostra a marca do trinco do banheiro nas costas.

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