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    DANIEL PELLIZZARI
mojo333@terra.com.br

Brasil 2x1 Turquia

Segunda, 03 de junho de 2002, 12h02



É. Ganhamos.

E, apesar do gol otomano na finaleira do primeiro tempo, teve aquela tesoura redentora do Nazário. Até que as coisas não estavam tão ruins pra um time que havia perdido o capitão no dia anterior. Isso, claro, até o Felipança cometer o descalabro de arruinar tudo colocando o Denilson em campo. Quando a entrada do número 17 foi anunciada, o solo brasileiro estremeceu por alguns instantes devido ao impacto sônico dos arrulhos proferidos pelos admiradores da firulança estéril. Mas bem, o Denilson entrou em campo e foi aquilo: ficou DIBRANDO. Em noventa por cento dos casos, a performance desse pseudo-jogador se resume a sair DIBRANDO campo afora como um desvairado, até ultrapassar a linha de fundo. Fico esperando o dia em que ele não vai se controlar ao chegar nas placas atrás do gol e vai seguir adiante, sempre DIBRANDO a massa, e aí dando um balãozinho, fazendo uma embaixadinha, pulando pras arquibancadas e subindo até topo do estádio, onde ficaria equilibrando a bola na ponta do nariz durante quinze minutos, até alguém lhe jogar uma sardinha. U-a-u. Futebol-arte. Contra a Turquia, o previsível: o sujeito recebia a bola, grudava ela nos pés e saia DIBRANDO meia Constantinopla, pra só se dar conta de que os limites do campo tinham acabado ao perceber que estava tentando DIBRAR um gandula coreano. Enquanto isso, o narrador histérico mais infame do país perpetrava coisas do tipo Denilson está jogando uma monstruosidaaaaaade. Pelo viés adequado, o pobre-diabo não deixava de estar certo: o cidadão carregando o 17 na amarelinha foi uma verdadeira aberração em campo. Sofrível. Lamentável. Deprimente. Escolha a sua adjetivação depreciativa predileta. Ele merece. Alguém precisa explicar pro Denilson que DIBRE não vale gol no futebol moderno. Nem no futebol dasantiga, por sinal. Nem quando os celtas jogavam bola com cabeças decepadas pelos campos da Gália DIBRAR contava pro resultado do jogo, Denilson. Deus do céu. Tu não vai ganhar 0.25 gols por cada DIBRE, meu rapaz. Se tu DIBRAR quatro, não vai anotar um tento pro teu time. Sério, cara. Acredite. Agora pára com essas frescuras e, por favor, jogue futebol ou largue essa vida. Pode DIBRAR, se quiser, mas depois passa a bola ou chuta pro gol. É tão difícil assim? Deveriam criar um circo itinerante pra esse tipo de jogador ficar exibindo tais habilidades, que plasticamente têm o seu valor mas são absolutamente inúteis na prática. Ou sei lá, que criem uma categoria olímpica. Não tem salto ornamental? Então pode ter futebol circense, ora. A gente se livraria dos Denilsons no futebol de verdade e, ao mesmo tempo, garantiria uns ourinhos a cada quatro anos pra nossa patriamada Brasil. Não precisaríamos mais depender de judô ou vôlei de praia. Que beleza.

Mas vamos aos pontos altos do escrete canarinho: sem malabarismos, Luizão e Rivaldo foram os anti-Denilsons, os heróis do jogo, preocupados com o que realmente importa no futebol: o resultado do placar. Luizão esteve impecável em sua atuação de emulador do Romário. Impressionante. Quase saquei uma LOVE do bolso pra guardar tais momentos no reino da posteridade fotográfica. Talvez sem perceber, as viúvas do verticalmente prejudicado ex-atacante carioca testemunharam exatamente o que seria a atuação de seu ídolo no Mundial. Cravado na pequena área turca e sem nenhuma velocidade, Luizão assistiu a bola passar pela sua frente incontáveis vezes. No único momento do jogo em que conseguiu dominar a pelota e trotar em direção ao gol, provavelmente para mandar a bola por cima da trave, foi tomado pelo santo espírito do pragmatismo. O que ele fez, torcida brasileira? DIBROU o beque otomano? Tentou mandar ver num CHAPÉU? Nada disso: aproveitou que o juiz só entendia de badminton e que tinha um turco agarrado em sua camisa pra arremessar o corpanzil no solo da Coréia e CAVAR UM PENAL. Fora da área. Quando o Brasil estava empatando o jogo e parecia mais perto de levar o segundo. Conseguiu expulsar um dos vermelhinhos. E, claro, garantiu a vitória brasileira. Gênio. Mestre. Jogador de verdade. E, ainda por cima, deixou no ar aquela sensação de "eita borra, era isso o que o Romário faria". É assim que se joga bola, juventude. Aprendam.

Já o Rivaldo conseguiu duas coisas que eu não esperava: proporcionar o momento mais sublime da história do futebol brasileiro e, por extensão, me fazer virar tiete incondicional. Nunca gostei do Rivaldo, com aquele corpo acromegálico e aquele sorriso de desenho animado japonês, quase sempre jogando pouco ou nada na seleção. Mas hoje tudo mudou. Foi assim: jogo ganho, perto do apito final, eu me levantava pra fazer mais pipoca quando a câmera corta pro Rivaldo caído no chão, aparentemente rolando de dor. Antes que se pudesse elocubrar sobre o que o tinha atingido, o replay: um dos otomanos chuta a bola diretamente em cima do brasileiro, que esperava para bater um escanteio. A esférica, distraída, o atinge na canela, pouco acima do tornozelo. Na mesma hora, o maior jogador brasileiro de todos os tempos enfiou as mãos no rosto e desabou no chão como um saco de pinhões. Ficou ali, se contorcendo terrivelmente, como se a) algum torcedor tivesse jogado uma pilha no seu nasão ou b) estivesse fazendo uma intervenção performática sobre o que aconteceu ao Ronaldo Nazário antes da final do Mundial de 98, ou, pior ainda, c) como se aquele bandeirinha calvo com cara de cheirador tardio de lança-perfume o tivesse convidado pra uma festinha de embalo depois do jogo. Comovente. Resultado da encenação mais tosca e cara-de-pau de todos os tempos? O juiz manda mais um turco pra vala e logo depois encerra o jogo, visivelmente constrangido e sentindo que tinha feito alguma grande bobagem. Provavelmente assistirá em casa ao replay do ocorrido, que repassará vinte vezes em câmera lenta até ele se decidir pelo suicídio inevitável. Mas o importante aqui é que este, como disse acima, foi o momento mais sublime de nosso futebol. Foi uma demonstração de malandragem e sabedoria futebolística, norteada por puro pragmatismo. Nunca imaginei que tamanho ARGENTINISMO me faria tão feliz.

O segundo tempo também foi marcado pela entrada do Vampeta, cuja maior contribuição para a história do futebol brasileiro foi estrelar um ensaio DESINIBIDO em uma publicação guei, no qual introduzia sua, hmm, lança-do-amor ereta em pobres redes até então virginais. Sim, eu admito que folheei essa revista. Não foi uma boa experiência. Na verdade, isso me dá a vontade irrecorrível de terminar esta análise por aqui. Sábado tem Brasil e Costa Rica, e vai ser mais ou menos assim: o Brasil vai dominar o jogo, apesar da defesa continuar aquele angu inominável. Incontáveis gols serão perdidos. Ronaldinho Gaúcho fará caretas de decepção e o locutor-aquele dirá que ele abriu um sorriso. Ronaldo Italiano chutará uma trave, ou talvez uma das bandeirinhas de corner. Aos trinta e quatro do primeiro tempo, Ronaldinho fracassará na tentativa de um passe de calcanhar. A bola quicará no tornozelo de um costarriquenho, mas a sobra vai cair no pé do Juninho, que dará um passe de letra pro RIVALDÃO MEU HERÓI cabecear e inaugurar o marcador. O mesmo locutor anunciará que sente cheiro de goleada. A torcida brasileira vai acreditar. Aos cinco do segundo tempo, gol da Costa Rica. O Brasil se enrola. Felipança colocará Denilson em campo. Ele DIBRARÁ, DIBRARÁ e DIBRARÁ, até dar de testa na grade que separa o campo da torcida. Não fará mais nada além disso até o fim do jogo. Aos quarenta e dois da etapa complementar, uma falta perto da pequena área centro-americana resultará no segundo e definitivo gol brasileiro, anotado por Lúcio. Assim como o primeiro, será de cabeça. Após o jogo, todos os comentaristas falarão bem do "futebol" apresentado por Denilson.

Caso a história seja muito diferente do previsto, voltarei para tecer comentários adicionais. Temei.

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