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    EMILIANO URBIM
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Tolstói quando eu respiro

Quarta, 05 de junho de 2002, 11h32



Uma feliz quarta-feira a todos que estão me lendo na quarta-feira, dia em que tradicionalmente "ocupa" este "espaço" Daniel Pellizzari, o "Mojo". Para quem não me conhece, eu sou o Emiliano Urbim, Príncipe da Baliza e, não é para me gabar, mas uma vez peguei um elevador com a Regina Duarte. Por favor, contenham a euforia. O papo vai ser cabeça hoje. Avisei, depois não digam que eu não.

Leon Tolstói era um escritor que nasceu em 1828 nos cafundós da Rússia, morreu em 1910 por lá mesmo e desde então tem colecionado variações de seu nome - Lev, Leão, Liev, Tolstói com ou sem acento, cada editora tem o seu. Adotei a grafia que está na capa do livro dele que eu estou lendo, Guerra e Paz.

Guerra e Paz, já ouviu falar? Conhece de vista? Não está ligando o nome a pessoa. Não, não é uma baixinha de óculos do financeiro, essa é a Janete. Pois então, estou lendo a obra-prima do Tolstói. Na real, não: Guerra e Paz disputa no tira-teima com Ana Karenina (ou Karênina, mas não vamos brigar por um circunflexo na língua dos outros, né?) o posto de melhor coisa que o cara fez. Até acho que Ana Karenina deve ser melhor, mas como eu só tinha Guerra e Paz em casa... o comodismo encontra em mim sua Terra Prometida, eu sou a Canaã da preguiça.

É engraçado que um cara metido a ler e escrever e ainda por cima meio esquerdinha como eu nunca tivesse nem tentado ler Guerra e Paz quando mais jovem. Na minha adolescência a coisa estava russa. Li Dostoievski, Thecov, Gogol, até Isaac Babel eu li por causa daquele livro do Rubem Fonseca. E me amarrava em Legião Urbana, que era a banda do Renato Russo! Mas Tolstói nunca, com acento ou sem. Guerra e Paz, imagine, comprei em um sebo do centro assim como se compra camisinha antes de um feriadão na praia, só por descargo de consciência. Talvez tenha me assustado a orelha: "o mais longo, o mais denso, o mais significativo dos romances de Tolstói".

Ficou lá, na estante, parado, pegando poeira, sol e umidade, dois volumes, duas grossas lombadas coloridas. E aí chegou o Corpus Christi semana passada e fez-se o milagre: tirei o dia para arrumar o apartamento, o que inclui a Biblioteca Municipal Lara Flynn Boyle - cada um com suas taras. Um lance mais arisco do meu braço direito que espanava a poeira munido de perfex fez cair o tomo primeiro da obra sobre meu pé, causando dor, gerando um grito de "puta la merda!" e chamando minha atenção para aquela jóia da literatura até então esquecida. Bah, menti muito, mas não importa, ao livro.

Ao contrário do que alguns de vocês podem estar pensando, Guerra e Paz não é dividido em dois volumes chamados "Guerra" e "Paz", é tudo um grande mocotó de emoções: tem romance, política, estratégia militar, religião e, claro, Napoleão. A história vai de 1805, quando Bonaparte foi feito Imperador em Roma, até 1812, quando fracassou sua invasão da Rússia. Logo, o nome mais correto seria Paz e Guerra, ou Paz, Guerra e Paz De Novo ou O Senhor dos Anéis, se é para ser comprido e falar de gente barbuda com nomes estranhos.

Mas o livro é bom, é boníssimo, é mijar depois de seis horas de viagem de ônibus, é como abrir um botão da calça depois de um café colonial, é como encontrar dinheiro no bolso - não queria comparar com nada recalionado a sexo, afinal de contas foi um milagre de Corpus Christi. É uma epopéia, uma Ilíada com pólvora e mulheres. É como Os Sertões, só que neva e Canudos vence. Eu posso falar com conhecimento, porque, afinal de contas, eu já li 49 páginas de 623. Na verdade 49 páginas de 1252, contando os dois volumes da edição que eu tenho.Graças a Deus tem figuras, 72, ou não sei o que ia ser de mim.

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