"Oh, não! Mikey!!"Eu não sabia o que estava acontecendo. Ela me olhava como se eu devesse estar entendendo tudo.
"Camila, o meu nome não é Mikey. Tu bebeu, guria?"
Nos conhecemos no carnaval, eu bêbado ela também. Eu estava perdido, meus amigos desaparecidos na beira da praia com um bode preto lá pelas três da manhã. Mas ainda tinha a chave do fusca, e lá fomos nós: Camila e eu.
Era dia dos namorados, levei-a para passar o dia em um camping, perto do lugar em que nos conhecemos. Camila quis logo se aventurar e explorar a natureza do local, o que nos levou para uma estrada que não levava a lugar algum. A todo instante eu tinha a impressão de que já havia passado por ali antes, a noite caindo, os pássaros da noite dando rasantes. Camila ficou nervosa.
"Oh, Mikey! Que bom que estamos juntos!"
Fechei todas as janelas do carro, os mosquitos estavam famintos. Bom, ao menos seria um dia dos namorados romântico. Quer dizer, isso é o que eu pensava.
À medida que as coisas esquentaram, Camila começou a agir de maneira estranha. Ela falava com uma voz que não lhe pertencia, a voz de uma criatura terrível, uma dubladora de filmes da Globo. Sim, é isso. Camila se transformou em um filme dublado, diante de meus olhos.
"Vamos, Mikey! Me abrace...oh".
"Enlouqueci, meu nome não é Mikey."! Ela olha fundo nos meus olhos, assustada, como se visse a morte em pessoa.
Corta.
De repente o carro vira conversível, estamos em um drive-in. No telão, um filme do Hitchcock. Camila assiste o filme, bebendo um milkshake com canudinho. Como em câmera lenta, um homem mascarado munido de uma serra elétrica, ela bebendo distraída com seu canudinho.
"Oh, Mikey, o que foi? Há algo errado?"
Não tenho tempo de responder. Camila grita, e o grito parece ficar no ar, mesmo depois da cabeça decepada. Olho bem para o mascarado, parece alguém que eu conheço.
"Rá! Só podia ser tu!"
Eu sei o que vai acontecer. Ele me olha por trás dos furinhos e parte pra cima de mim com a serra. Infalível.
Corta.
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