Quase ninfeta - Jovem solteira e bonita, 29 anos, no esplendor da forma, procura homem entre 75 e 80 anos, sem filhos e que possa dispor dos bens como quiser. O homem deve gostar de apelidos como Dozinho ou Papaizinho e de artes, principalmente da minha carreira como cantora que está precisando deslanchar e de alguém que queira bancar o lançamento de meu primeiro CD. Deve gostar da minha família e não se importar com o Du, meu primo que vai aparecer de vez em quando para me visitar. Mas não se incomode: ele só vem à tarde, quando estou sozinha. Você nem vai saber que esteve aqui com aquele corpão de halterofilista. No primeiro contato, traga o talão de cheques, pois o aluguel está atrasado há três meses.
Milionário – Não sou um homem rico de dinheiro, mas de amor. Sou um poeta alternativo e procuro uma mulher que goste das mais sublime das artes e queira ouvir obras eternas como a minha Ode à Paixão. “Ó paixão/ Paixão nesta ode/ Ode paixão/ E assim não pode”. Deve estar em boa forma física para me acompanhar de bar em bar todas as noites vendendo meu livro de poesias Amor e riqueza são a mesma beleza, impresso com as minhas economias e que depois de cinco meses é um sucesso do gênero alternativo, com cinco volumes vendidos. Deve ser do tipo moderna, que não se importa em pagar a conta. Aliás, para mostrar que é moderna mesmo, deve pagar SEMPRE a conta.
Arrependido – Eu não devia ter largado a Mercedes. Tenho quarenta e quatro anos e fui abandonado há pouco por Heleninha. Boa experiência em casamentos, já que estive com a Mercedes até quatro meses atrás, quando conheci Heleninha, uma estagiária do jornal. Nada tenho a oferecer no momento, pois ainda estou devendo quinze anos de prestações do apartamento que comprei para a Heleninha há três meses. Mas nem tudo está perdido porque há dois meses ela me convenceu a fazer um seguro de vida que vai resolver a vida de quem estiver comigo quando eu morrer. Podemos começar o relacionamento logo depois que eu der entrada no divórcio. Está demorando um pouco porque ando meio doente e ainda fico pior nas vezes em que Heleninha me convida para almoçar. Ela vem cheia de carinho, me dá de comer e me manda embora. Sempre cozinhou mal, mas agora está um horror. A comida, juro por Deus, é tão ruim que até parece veneno.
Independente – Procuro mulher que queira me decifrar, mas já vou avisando: sou mais difícil do que o último filme do David Lynch. Tem que saber qual é a última novidade do rock inglês, americano e escocês, falar mal do último lançamento daquela banda que foi sucesso no ano passado. É desejável condição financeira estável para poder comprar o último livro daquele escritor que todo mundo anda comentando por semanas e depois exibir em tudo quanto é lugar, sem ler. Quando tem alguma grande exposição, gosto de falar mal e dizer que não vou se estiver fazendo sucesso ou não deixo de ir quando todo mundo diz que é ruim. Obrigatório gostar de lugares mal iluminados com banheiros fedorentos. Saber fazer cara de tédio é fundamental.
Desesperada – Procuro homem que queira se casar rápido e me levar para bem longe dos meus filhos antes que eu enlouqueça. Uma nunca teve jeito para o trabalho e agora pôs na cabeça que vai arrumar a vida quando surgir um velho milionário. O outro só aparece para filar o almoço em casa, às vezes o jantar. Anda magro demais, não tem dinheiro pra nada, mas também, vivendo de vender livro... O caçula é o pior: se recusa a sair de casa, só usa roupa esquisita, pintou o cabelo de vermelho e gasta todo o meu dinheiro em discos de uma música que eu não consigo entender como alguém gosta daquilo. E ainda há o do meio, que além de tão maluco como os outros, ficou pior depois que casou com a talzinha, a Heleninha. Agora deu de sumir. No outro dia, me disse que andava passando mal, mas quando eu ligo para a casa dele, para saber notícias, não atende. O telefone só toca e toca sem parar.
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