O Zicão chegou em casa picando de bêbado. Bateu várias vezes na porta e, como ninguém atendia, foi até a janela do quarto e começou a cantar: "Vem logo, vem curar teu nego, que chegou de porre, lá da boemia".
A porta não se abria e o Zicão repetindo aqueles versos sem parar e num ritmo cada vez mais triste. A primeira reação de desacordo veio do cachorro do vizinho, que começou a uivar, logo acompanhado pelos outros cães da vizinhança. Em pouco tempo, o bairro virou um inferno, com cachorro uivando em todos os cantos.
Mas aí a porta se abriu e de dentro saiu a sogra do Zicão. Ela caminhou até onde ele estava e puxou-o pela gola do casaco, arrastando-o para dentro. Quando recebeu a luz direta nos olhos, readquiriu um pouco de lucidez e olhou para o rosto dela, surpreso.
- A senhora por aqui, sem avisar!?
Ela jogou-o no chão e limpou as mãos no roupão acolchoado.
- Agradeça isso ao cachorro do vizinho!
- Ah, pois não! - disse o Zicão, enquanto tentava abrir a porta para sair.
- Aonde você pensa que vai?
- Vou agradecer ao meu amigo.
- Que amigo!?
- O cachorro do vizinho.
- Vai dormir, nulidade! Antes que eu perca paciência contigo.
Contrariado, o Zicão foi até a geladeira, pegou uma garrafa de pinga e a ergueu, cambaleante, muito próximo ao rosto dela:
- Então, de minha parte, eu sugiro um brinde ao cachorro do vizinho!
E bebeu direto do gargalo, sob o olhar desolado da sogra.
Crônicas anteriores »