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    EMILIANO URBIM
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Fica

Segunda, 01 de julho de 2002, 17h26



Hoje eu vou ter de dar muita volta, já aviso de antemão. Mas é que sem contextualizar eu não consigo, como já dizia o meu amigo Sal (de Salsicha; achavam ele parecido com o o amigo do Scooby Doo). Sim, é sobre o penta.

Eu e meu irmão menor Nôno (de Nôno Tchon, corruptela de "no notion", "sem noção" em inglês) fomos juntos ao estádio só nós dois apenas duas vezes na vida até hoje. As duas para ver o Grêmio, nosso time. A segunda foi em 24 de agosto de 1997, data fatídica. Era um Gre-Nal (Grêmio contra Internacional, futebol é uma coisa muito lógica) válido pelo Campeonato Brasileiro. o Inter meteu 5 a 2 no tricolor, uma vergonha do tamanho de uma pilha de louça suja de churrasco. Para completar, um de nós dois - provavelmente eu - teve a idéia esdrúxula de voltar a pé para casa, e fomos ouvindo a gozação dos colorados durante todo o caminho.

A primeira vez, muito pelo contrário, foi um dia de glória, glória-glória-aleluia quiçá. Era segundo jogo da final do Campeonato Brasileiro de 1996, dia 15 de dezembro, Grêmio x Portuguesa. O Brasil todo estava enamorado da Portuguesa, livre, leve, solta, zebra, simpática. O adversário perfeito para canalizar o recalque de todos os outros times do Brasil contra a equipe gaúcha.

E estava dando certo, já que o primeiro jogo da final, em São Paulo, havia sido 2 x 0 para a Lusa. O Grêmio precisava de um placar com a mesma diferença de dois gols para ficar com o título. Parecia que ia ser fácil, já que logo aos 3min o diabo-loiro Paulo Nunes abriu o placar para o tricolor. Mas se seguiram dezenas de minutos de tortura incessante, até que aos 39 do segundo tempo o odiado reserva Ailton Bostão (de bosta grande) emendou um chute de esquerda da intermediária e decretou que o Grêmio era bi-campeão brasileiro.

Ranços bairristas, títulos, um reserva odiado que faz um gol decisivo, isso acontece. Mas aí é que sucede o insucedível (essa eu não achei no dicionário, podem usar). Foi lindo.

O estádio inteiro, eu e o Nôno junto, bandeirinha de plástico distribuída na entrada de grátis em riste, passou a gritar: "Fica! Fica! Fica! Fica!". Não nome de time, nem de jogador, nem palavrão, mas uma ordem: "Fica!" Fica quem?, você pergunta, não-versado-na-história-do-tricolor-da-Azenha leitor. Fica!, fica Luis Felipe Scolari, o Felipão, que era técnico do Grêmio na época. Fica, não vai embora não, só mais três anos e meio, outra Libertadores, por favor, vamos para Tóquio de novo, nós te amamos, Felipão, não nos deixe por nada nesse mundo.

Mas não adiantou.

Juro que não acreditei, eu te estranhei, me debrucei sobre teu corpo e duvidei, e me arrastei, e te arranhei, e me agarrei nos teus cabelos, nos teus pelos, teu pijama, nos teus pés, ao pé da cama. Sem carinho, sem coberta, no tapete atrás da porta, reclamei baixinho. Mas esse não era eu, era a Elis Regina com piano do Francis Hime recitando Chico Buarque.

O estádio atrolhado, 60 mil vozes gritando "fica!" e ele foi ganhar dinheiro e no Japão, depois em São Paulo, depois em Minas, depois na Seleção. Seleção que ontem ele levou ao pentacampeonato e que agora vacila em continuar comandando. Quer fazer sei lá o quê, ser campeão com algum time europeu de algum país da Europa, mostrar que pode. Te fode, Felipão. Pela segunda vez na vida eu berro para ti: fica!, fica na seleção. Fica. Não deixe a torcida assim "te adorando pelo avesso, pra mostrar qua inda sou tua, só pra provar que inda sou tua". Pronto, agora já somos eu e o Chico pedindo. Fica?

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