Meu primeiro contato com o mar foi aos cinco anos. Praia vermelha, Rio de Janeiro. Nos primeiros cinco minutos em que chegamos (mamãe e eu) à praia, subimos numa das pedras. Não era muito alta, mas logo que sentei, vi um homem agitando os braços, se afogando não muito longe da beira. Quando eu apontei, mamãe entrou em frenesi histérico e começou a gritar pro salva vidas. Não havia salva vidas. Provavelmente estivessem todos bebendo água de côco no posto nove, com seus corpos depilados como golfinhos. Papai não estava, "se estivesse ele entraria lá e salvaria o moço". Fomos embora da praia, e mamãe me mostrava coisas na rua para que eu não olhasse para a água. A areia da praia vermelha estava quente, e cheia de cacos de vidro enterrados. Nenhuma de nós jamais soube o que aconteceu com o homem.
Mas apesar da experiência deveras aterradora desta primeira vez, sempre fui fascinada pelo mar. Mudamos para Botafogo, na rua Góes Monteiro, e o Leme era bem ao lado. Papai nadava além da arrebentação, comigo nas costas. O mar era um gigante azul terrível, mas eu não tinha medo. E quando as ondas muito grandes (os "caxotes") me botavam medo, ele me segurava as mãos e a onda nos levantava, macia. Aí então papai voltava a nadar, contra a força aterradora do mar. Eu tampava a boca com uma mão (mas sempre acabava bebendo água) e me segurava com a outra. A água que papai cortava - com braçadas cada vez mais lentas - tinha uma coloração marrom-esverdeada.
Quando eu conseguia levantar a cabeça e ver além, sabia onde queria ir. Mais para o fundo, para onde o azul muito brilhante e calmo parecia sem ondas. Eu dizia: "Vamo lá no azulzinho, pai!" e ele, cada vez mais cansado, respondia entre uma braçada e outra: " O azulzinho é aqui, filha".
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