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    EMILIANO URBIM
nosso.estranho.humor@terra.com.br

Eu e vocês, vocês e eu

Terça, 15 de outubro de 2002, 23h05



Vejam como eu sou trouxa. Parem de olhar a minha foto aí em cima, era linguagem figurada! Me explico.

Passei a receber mails de leitores desde que comecei a escrever aqui, há 228 dias. (Sabiam que dá para calcular na planilha eletrônica? Claro que não sabiam.) Na real não foi bem há 228 dias, porque nas duas primeiras semanas o mail estava errado, então seriam uns 215, 210 dias.

Mas como eu estou mandando a coluna atrasada DE NOVO, e não sei quando os terráqueos vão publicar, esqueça os dias que abalaram o mundo e vamos tratar aquela época de Início. Início de Moraes, já que eu não faço trocadilhos infames
faz uns dois minutos.

Desde o Início de Moraes, quando passei a receber mails de leitores, botei na cabeça que ia fazer um texto um dia que falasse dessas mensagens, mas cuidando para não cair naquele estilão "aquele abraço". Primeiro, porque são vocês que fazem isso aqui acontecer. Nãããã, mentira. Primeiro por vaidade: vejam como sou admirado, vejam como sou odiado, vejam como sou. Segundo, porque ia ser muito fácil: um copiar-colar básico dos mails de vocês, um que outro comentário costurando e voilà, uma coluna pronta.

Pena que uns dias antes de viajar (morava em Porto Alegre, estou em São Paulo, oi, prazer, Emiliano, queísso, são seus olhos, onde? na testa? saiu?) eu estava tentado me livrar dos santinhos virtuais de um candidato a qualquer coisa e
consegui apagar todos os mails que havia recebido até então - só tenho os de um mês e meio pra cá. Felizmente, o candidato não se elegeu. Infelizmente, muita mensagem de muita gente fina, elegante e sincera se perdeu para sempre.

Viram como eu sou trouxa?

E pior que eu não lembro os nomes. Lembro que uma das primeiras que me escreveu era uma guria de Mato Grosso do Sul, de Três Lagoas. Respondi agradecendo os elogios, mas também fiz uma pesquisa e citava dados sobre a cidade, nome do prefeito, municípios vizinhos. Aí a guria me escreveu perguntando se eu conhecia a cidade, aí eu disse que não, que eu tinha visto tudo na internet. E aí acho que ela se sentiu ludibriada: nunca mais me escreveu palavra. Vai entender.

Teve também um cara, acho que era de Santos, que dizia ter uma vida muito triste e que as crônicas eram uma alegria na vida dele. Aí eu caí na besteira de responder algo como "ei, não fique triste, há uma luz no fim do túnel" e o louco desembestou a dizer que eu não entendia a dor dele, que ninguém entendia a dor dele, que eu por favor - isso eu nunca vou esquecer - "não bulisse com seus assuntos." Outra vez engraçada foi de um cara que leu "Quando eu conheci o
Sting", que é um nonsense total, mas ele tinha certeza que tinha alguma relação com o jogo Brasil x Inglaterra da Copa 2002.

Ainda no Início de Moraes (cara, que piada bisonha) teve uma crônica que eu jurei que fosse ser o Hit do Verão de Salvador, "Reginaldinho, o Possuído". Era a história de um guri possuído pelo Diabo, que tinha feito muito sucesso entre os meus amigos quando surgiu em 2000. Mas pelo jeito os tempos mudaram, porque ninguém gostou. Tema muito forte para o horário? É uma pena, porque tem uns dez prontos, é uma temporada inteira, ia ser ótimo se vocês gostassem.
Seriam dois meses de colunas atualizadas no dia certo!

"Juventude", do final de maio, gerou alguma comoção. Teve gente que me ligou dizendo que chorou quando leu. Tá, três gentes: minha mãe, minha vó e minha tia. Era mais séria, misturava noticiário com vivência. Dêem uma olhada, o link está aí no final da página. Eu gosto bastante.

Mas o maior de todos os burburinhos foi quando eu escrevi um texto falando de comerciais de TV, "Publicidade e Propaganda". Lá pelo meio eu falava no carro Polo, e dizia que era da Fiat. É da Volkswagen. Nunca me escreveram tanto:
"burro", "ignorante", "erro crasso". Ou então elogiando e depois descendo o pau: "texto legal, mas como é que você foi me errar a marca do veículo, até um cágado
vesgo sabe que o Polo não é da Fiat...".

Acho que é dessa leva o leitor Marco Antônio, cujo lema é "sempre te aporrinhando, mas lendo". Quando o cara não escreve para me chamar de puto, é para me xingar porque não tem coluna nova. Aliás, ele não é o único que se
irrita com meus atrasos. A leitora Thaís Pinheiro perguntou se eu estava de greve, já Amanda Dominici (que já havia reclamado do "sotaque" gaúcho excessivo) queria saber se a coluna havia sido cancelada.

Nem um nem outro, gurizada. É que, bah, eu sou muito preguiçoso e desorganizado - e tudo só piorou depois que eu mudei de cidade. Quem ler as crônicas anteriores vai ver a quantidade enorme de erros de digitação, tudo porque eu não releio nem passo corretor.

Ainda assim, aqui estou eu, aí estão vocês. Desde o Maurício Rezende, em Porto Alegre, até a Ana Bethânia, em Belém, passando pela Heloísa Hoon, de algum lugar - apaguei o mail em que ela dizia onde morava. Os que eu conheço
pessoalmente que estiverem com ciuminho saibam que vocês moram no meu coração, com vista pra aorta.

Cara, trinta colunas com essa. E foi por acaso, só contei agora. Deve significar alguma coisa.

Leia a crônica anterior

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