A Tati ia àquele Café todos as tardes, sempre à mesma hora. Mas
naquele dia, quando ela puxou a cadeira para sentar, o Jarbinhas
percebeu um detalhe que jamais vai esquecer em toda a sua vida.
Tocava Medo de Avião nº 2, com Belchior, e a Tati cantarolava
junto:
"Foi
por medo de avião
que eu segurei
pela primeira vez
na tua mão".
O Jarbinhas contou até cem, tempo suficiente para a Tati se
acomodar numa mesa e pedir a sua cerveja de todos os dias, e foi
para o tudo ou nada. Caminhou até onde ela estava, parou à sua
frente e, sempre muito educado, pediu um minuto de atenção.
Sacou o boné da cabeça e o colocou sobre a mesa.
"Você poderia me dar um autógrafo?", perguntou ele,
entregando-lhe uma caneta com a tampa mordida.
A primeira reação da Tati não podia ser diferente, claro. Disse que
ele, com certeza, a estava confundindo com outra pessoa.
"Eu sou apenas a Tati, ora!"
Aí o Jarbinhas iniciou o ataque propriamente dito:
"Sim, eu sei. Mas me permita discordar de um pequeno detalhe",
continuou ele, puxando uma cadeira. "Apenas a Tati, não, minha
linda e divina deusa! Você é a Tati e muito mais que isso, tá
sabendo!?"
A Tati esboçou um sorriso e o Jarbinhas foi adiante, a cara de
quem acabou de ver o seu salsicha de estimação ser estraçalhado
pelo pitbull do vizinho:
"Você vai me dar o autógrafo?"
A Tati parecia perplexa, intrigada.
"Mas no boné?", foi a primeira pergunta que lhe veio à boca.
"A bem da verdade", ponderou o Jarbinhas, "eu gostaria que fosse
na camiseta. No peito. Fica mais perto do coração..."
Então a Tati abriu um daqueles sorrisos de iluminar um quarteirão
inteiro em noite de blecaute. A Tati, no jargão do Jarbinhas,
acabava de baixar a guarda. E mulher bonita, diante da artilharia
pesada do Jarbinhas, não baixava a guarda impunemente uma
segunda vez. Ele a levava a beijar a lona na primeira, sem dó nem
piedade.
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