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Por que cada vez mais americanos resolvem se mudar para o México

Dos 9 milhões de cidadãos americanos que vivem fora dos EUA, 1,5 milhão está vizinho do sul, e em algumas cidades há grandes comunidades de americanos.

25 jul 2019 - 10h44
(atualizado às 11h22)
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Americanos encontram no México a possibilidade de uma vida mais barata, clima menos severo e valores culturais diferentes
Americanos encontram no México a possibilidade de uma vida mais barata, clima menos severo e valores culturais diferentes
Foto: Domitzu Medrano / BBC News Brasil

"Muitas pessoas vêm se aposentar aqui, porque há um clima de perpétua primavera e por apenas uma fração do dinheiro que gastariam nos Estados Unidos", diz Terry Vidal sobre Ajijic, um município em Jalisco, onde está uma dos maiores comunidades de americanos no México.

Embora não haja números oficiais, estima-se que os americanos ali somem entre 7 e 14 mil.

"A maioria é de aposentados. Mas como Donald Trump é o presidente dos Estados Unidos, há cada vez mais jovens que não querem mais estar lá e vêm para cá", diz ele.

Vidal é o diretor executivo da The Lake Chapala Society A.C., uma organização que se define como de "pessoas que ajudam as pessoas" que se mudam para Ajijic - e não apenas os americanos.

A Embaixada dos EUA no México estima que dos nove milhões de americanos que vivem fora de seu território, 1,5 milhão esteja no México.

As fontes consultadas pela BBC News Mundo dizem nunca terem visto uma diáspora de americanos desta dimensão; mas a extensão desse movimento é difícil de confirmar, já que os EUA não têm informações sobre seus cidadãos no exterior. Além disso, muitos moram no México com visto de turista.

Uma das maiores comunidades de americanos no México está em Ajijic
Uma das maiores comunidades de americanos no México está em Ajijic
Foto: Domitzu Medrano / BBC News Brasil

Mas é consenso que a presença de americanos no México tem aumentado na última década.

Além de ser um país mais barato e ter um clima menos severo, outra razão para os americanos migrarem para lá é a proximidade geográfica.

"É uma boa opção porque é um país vizinho do qual você pode viajar facilmente (para os EUA) e também há comunidades de americanos, o que facilita as coisas", explica Rachel Schmidtke, pesquisadora do Woodrow Wilson Institute for Scholars, um centro de pesquisas baseado em Washington.

Vidal, diretor-executivo da The Lake Chapala Society A.C., diz que os americanos que têm se mudado para Ajijic têm um perfil parecido, e os chamou de "pássaros de uma mesma plumagem". Seriam de um estrato social semelhante, e a maioria, segundo Vidal, se identifica com o Partido Democrata, embora também haja, entre eles, republicanos e simpatizantes de Trump.

'Ajijic é uma colônia moderna', explica Terry Vidal
'Ajijic é uma colônia moderna', explica Terry Vidal
Foto: Domitzu Medrano / BBC News Brasil

Segundo Vidal, Ajijic é uma colônia moderna, que "não foi imposta pela força, mas pela economia".

E a colônia americana é tão grande que muitos nem precisam falar espanhol, mesmo que já vivam na cidade mexicana há muitos anos.

Mas esta também não é uma situação geral; muitos dos americanos que vivem no México falam perfeitamente o espanhol.

'No México, me sinto mais em casa'

É o caso de Natalie Baur, historiadora especializada na preservação de arquivos digitais que chegou à Cidade do México há quatro anos.

"Foi onde eu me encontrei. Agora, me sinto mais em casa aqui do que nos Estados Unidos", diz. Ela chegou com uma bolsa de estudos para estudar por nove meses, mas depois ficou.

Ela diz que ficou feliz por estar morando no México quando, em novembro de 2016, Donald Trump venceu as eleições presidenciais.

"Pode ser muito estranho para o governo americano que um cidadão queira viver no exterior, por exemplo, no México. Mas todos nós temos o direito de migrar. Alguns querem ir (para os EUA), outros querem sair de lá - e não somos traidores para isso", defende.

"Eu amo meu país. Mas meu dia a dia está aqui."

Ela está feliz com os amigos que fez na capital mexicana, embora aponte para alguns "defeitos" do novo país.

"Os processos burocráticos são difíceis e às vezes inúteis", diz.

'Todos nós temos o direito de migrar. Alguns querem ir (para os EUA), outros querem sair de lá', diz Natalie Baur
'Todos nós temos o direito de migrar. Alguns querem ir (para os EUA), outros querem sair de lá', diz Natalie Baur
Foto: Ana Gabriela Rojas / BBC News Brasil

Ela também reconhece que, como migrante americana no México, tem "muito mais privilégios" do que os mexicanos que vão para os Estados Unidos.

Outra vantagem é que, em um de seus empregos à distância, ela ganha em dólares, o que no México rende mais.

Quanto aos processos para legalizar a sua situação imigratória, ela lembra as dificuldades que muitos trabalhadores mexicanos enfrentam nos EUA, enquanto tudo é mais fácil para seus compatriotas no México.

"Quis estar aqui em situação legal, e pago vários impostos porque quero ser justa e contribuir para o país. Mas há muitos americanos que se aproveitam do fato de poder morar aqui sem se registrar", conta.

A jovem diz que foi cativada pela generosidade dos mexicanos, que querem mostrar a beleza de seu país e receber pessoas que não conhecem de braços abertos.

"Eu não era assim, mas agora tenho mais confiança."

A preocupação com a segurança

Americana celebra o dia dos mortos em Ajijic, onde eventos culturais são abundantes
Americana celebra o dia dos mortos em Ajijic, onde eventos culturais são abundantes
Foto: Domitzu Medrano / BBC News Brasil

"Embora os americanos que moram no México vivam em lugares relativamente seguros, a insegurança é uma das preocupações deles", diz Schmidtke, do Wilson Center.

Nora, originalmente de Chicago, vive em Cuernavaca, no Estado de Morelos, no centro do país.

Ela é professora e diretora de uma escola.

Ela diz que Chicago é uma cidade "extremamente violenta". No entanto, ele também fala sobre como, nos dez anos que viveu em Cuernavaca, o número de estrangeiros residentes diminuiu bastante.

"Somos muito poucos agora. Algo que tem impactado muito é a violência dos cartéis. Eles fecharam muitas escolas de idiomas nas quais muitos jovens estudavam espanhol."

Apesar de tudo, ela diz que uma parte de seu coração é mexicana e que é muito grata a todas as pessoas que a ajudaram a se sentir em casa.

"No México, há uma urgência de viver e desfrutar (da vida) que não necessariamente temos nos EUA."

Embora reconheça que, de certo modo, isto seja um clichê, ela concorda que, em seu país de origem, as pessoas vivem para trabalhar, enquanto em seu país de residência, as pessoas trabalham para viver.

"Sendo gringa, isto é muito sedutor. Você chega ao México e vê que tudo se trata da família, de estar junto, se divertir enquanto pode. Isso é algo muito poderoso."

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